26 fevereiro 2007

Assis, o carrasco



Benedito de Assis da Silva nasceu em São Paulo, em 12 de novembro de 1952. Escorpiano, signo de grandes futebolistas, como Pelé, Garrincha e Maradona. Assis foi criado na Zona Leste da capital paulista, mais precisamente no bairro da Vila Prudente. E foi lá mesmo que começou a jogar futebol de salão – o futsal foi criado bem depois, no Vips Clube. Aos 18 anos resolveu tentar a sorte no futebol de campo, jogando no Juventus, mas não se adaptou bem à mudança de esporte e foi dispensado após apenas dois meses. Foi em seguida para a Portuguesa de Desportos, mas também lá não teve sucesso e Assis não teve alternativa a não ser abandonar o futebol profissional.

Apenas temporariamente, pois Assis nunca desistiu totalmente da bola e, durante cinco anos, trabalhando de dia e estudando à noite, jogava apenas durante os fins de semana, em campos de várzea como amador, ou ganhando um bicho que lhe permitia pagar uma ou outra refeição. Foi quando a vida chamou Assis de volta ao seu destino: um olheiro viu-o jogar em um campo de pelada e convidou-o a fazer um teste no São José. Aprovado no teste, finalmente assinou seu primeiro contrato profissional, aos 22 anos, e mudou-se para São José dos Campos, onde dormia na concentração do clube.

A vida era dura no São José. O salário, que não era alto, tampouco era pontual e Assis resolveu tentar a sorte em outro clube. Após um ano no São José, transferiu-se em 1976 para a Inter de Limeira e, em seguida, para a Francana, onde seu futebol começou a brilhar. A equipe de Franca foi a campeã da segunda divisão e Assis foi um dos destaques e artilheiro da equipe. Em 1979, já na primeira divisão do campeonato paulista, Assis fez um gol pela Francana contra o São Paulo chamando a atenção dos dirigentes são-paulinos, que o contrataram. Assis continuou vencendo, conquistando o bicampeonato paulista em 1980 e 1981.

Ainda em 1981, Assis foi para o Internacional, onde foi novamente campeão e conheceu aquele que viria a ser o seu grande parceiro no futebol e na vida: Washington. Nos treinos, os dois começaram a formar o entrosamento na jogada aérea que tanto os caracterizou. Assis se recorda que ficavam horas treinando cabeçadas. Desenvolveram uma técnica fantástica, eram capazes de enganar o goleiro e mudar a direção da cabeçada em cima da hora, dando um passe de cabeça para o companheiro livre ao invés de cabecear para o gol. Uma jogada simples, mas mortal, que os adversários não conseguiam impedir e os imortalizaria mais tarde, no Fluminense como o Casal 20.

Em 1982 os dois foram para o Atlético Paranaense, trocados pelo lateral Augusto, e lá viveram um grande momento. Foram campeões paranaenses e no ano seguinte levaram o time às semifinais do Campeonato Brasileiro, sendo eliminados pelo Flamengo. Nesta partida, Washington marcou dois gols contra o time carioca e chamou a atenção dos dirigentes tricolores, que foram à Curitiba tentar a sua contratação. O Atlético aceitou vender Washington, mas condicionou o negócio à contratação também de Assis, que já passava dos trinta anos e se aproximava do fim da carreira.

Os tricolores que vibraram com a contratação de Washington mal podiam imaginar que aquele jogador de pernas compridas, de 1,81 metros de altura, que já era considerado velho e que vinha apenas como contrapeso se tornaria um dos maiores jogadores de todos os tempos da história do Fluminense. Os dois viveram no Flu os ápices de suas carreiras, uma dupla infernal de atacantes que confundia as defesas adversárias e foram apelidados de Casal 20. Conquistariam o tricampeonato carioca e o campeonato brasileiro e fariam parte daquele time que foi a verdadeira máquina de jogar futebol e está até hoje gravado na memória de todo tricolor: Paulo Victor, Aldo, Duílio, Ricardo e Branco; Jandir, Delei e Assis; Romerito, Washington e Tato.

Anos mais tarde, Assis confidenciou que ficou muito incomodado com aquela transferência como “contrapeso” do Washington, e jurou para si mesmo que provaria o seu valor no Fluminense. Logo no primeiro turno do campeonato de 1983, Assis foi o melhor jogador, marcando 8 gols, inclusive os dois da final contra o América, mas o gol que o marcaria para sempre foi o da final contra o Flamengo, aos 45 minutos do segundo tempo, aproveitando uma bobeada da defesa rubro-negra.

No ano seguinte, Assis confirmaria o apelido de "carrasco" ajudando o Fluminense a conquistar o bicampeonato, derrotando novamente o Flamengo na final, com um gol de cabeça após o cruzamento de Aldo aos 30 minutos do segundo tempo. O goleiro argentino Ubaldo Fillol, que antes do jogo contara vantagem, nem mesmo pulou para sair na fotografia. 1984 foi mesmo o grande ano da carreira de Assis, quando conquistou também o campeonato brasileiro pelo Fluminense e por suas atuações magistrais foi convocado para a seleção brasileira pela primeira vez, aos 32 anos de idade, pelo técnico Edu.

Em 1985, Assis conquistou o tricampeonato carioca pelo Fluminense e o seu hexacampeonato estadual particular (80-81 pelo São Paulo, 82 pelo Atlético-PR, 83-84-85 pelo Fluminense). Jogou no Fluminense até 1987 e é até hoje lembrado com saudade pelos torcedores tricolores. Atualmente mora em Volta Redonda onde trabalha com Delei na Secretaria de Esportes.


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