21 abril 2008

O caráter de Renato Gaúcho

O Fluminense foi derrotado ontem, no Maracanã, pelo Botafogo, na final da Taça Rio. Quis o destino que o nome no jogo fosse Renato Silva, o zagueiro desacreditado que fora demitido pelo Fluminense no ano passado, após ser flagrado no exame anti-doping como consumidor de maconha. Não apenas Renato Silva fez o gol da vitória, aos 40 minutos do segundo tempo, como também impediu o Fluminense de sair em vantagem ao cometer o pênalti em Washington quando este ia marcar o gol, ainda no primeiro tempo. O pênalti foi marcado, mas Washington desperdiçou-o, chutando a bola na trave, com o goleiro Castillo batido. Apesar de o jogo contar com inéditos 7 auxiliares, nenhum deles foi capaz de ver a invasão de área que obrigaria a repetição da cobrança do pênalti.

Bem, mas reclamar de arbitragem é coisa de botafoguense. Além do mais, o que se pode esperar de uma partida arbitrada pelo William Nery? Exatamente o que se viu ontem, um festival de erros e equívocos perpetrados pelo pusilânime e inseguro árbitro, que permitiu que os jogadores do Fluminense praticamente arrastassem Jorge Henrique para fora de campo, após a sua expulsão. Permitiu? Minto. O lamentável William Nery ajudou os jogadores do Fluminense a empurrarem Jorge Henrique para fora de campo.

O jogo foi dominado pelo Botafogo, muito bem armado pelo técnico Cuca. Foi o terceiro confronto entre Botafogo e Fluminense neste ano, e a terceira derrota tricolor. Apesar de contar com melhores jogadores, o time do Fluminense não tem o conjunto e o padrão de jogo do Botafogo. Leio, hoje, nos jornais que na preleção aos seus jogadores, Cuca lembrou-os das dificuldades para chegarem aonde chegaram, citando os treinamentos diários em três turnos, às 7h, 11h e 16h. Bem, o resultado se viu em campo. De tanto treinar, o Botafogo adquiriu consistência e encaixou. Quanto ao Fluminense, fica a lição. Quem freqüenta as Laranjeiras sabe como são os treinos (aliás, treino, apenas um por dia) dirigidos por Renato Gaúcho. Verdadeiros rachões, peladas em que o nosso "treinador" participa ativamente, como jogador.

Há cerca de um ano, o Fluminense inaugurou o centro de treinamento em Xerém, com o treino dos profissionais. Em um evento do mais puro marketing, a imprensa foi convocada para registrar a cena. Durante alguns dias os jogadores treinaram em tempo integral em Xerém. Durou pouco tempo, logo os jogadores voltavam para os rachões das Laranjeiras. Enquanto isso, o Botafogo recebia seu segundo estádio do poder público e segue se fortalecendo. O resultado se vê dentro de campo.

A diretoria do Fluminense não é a única culpada pela derrota de ontem, mas é quem tem a maior responsabilidade. Desde o início do ano deu carta branca ao desorientado treinador Renato Gaúcho, que insistiu inicialmente num 4-3-3 suicida. Renato teve mais sorte que juízo, pois com a saída de Leandro Amaral, o Flu foi obrigado a armar-se num esquema mais equilibrado. Mas os erros de Renato continuaram, entre eles a incompreensível insistência na escalação do volante Ygor. Com Ygor em campo, o Fluminense joga com um jogador a menos. Ygor não sabe se é zagueiro, ou meia. Tem deficiências seriíssimas e fica nervoso ao dar um simples passe de três metros. Imagine quando se vê obrigado a armar um jogada, alimentando o ataque. Pois é. Ontem, no Maracanã, essa cena lamentável se repetiu várias vezes.

E Renato Gaúcho não dá o braço a torcer. Fiel a seus pupilos, segue surdo aos pedidos da torcida, da imprensa e não sacará Ygor do time, assim como não sacava Marciel em 2003. Aliás, que fim levou Marciel? Ainda está tentando ganhar a vida jogando bola, ou terá se tornado auxiliar de pedreiro, uma profissão mais condizente com a sua habilidade nata?

Ao final do jogo, estava curioso apenas para ouvir a entrevista com Renato Gaúcho. Ele sempre se supera no "eu venci, nós empatamos, vocês perderam". Em quem ele jogaria a culpa dessa vez? E realmente, Renato Gaúcho não me decepcionou novamente. Dessa vez, o culpado foi Washington, que perdeu o pênalti. "Não era ele que tinha que bater." - disse o técnico. "Conca, Gabriel e Thiago Neves treinaram cobranças de pênalti durante a semana e deveriam bater. Washington pouco treinou, recuperando-se da contusão." Muito bem, assumindo que isso seja verdade, se Renato Gaúcho tivesse o real comando do time, os jogadores estariam cientes de quem deveria bater. Bastaria apenas olhar para o banco de reservas e um olhar do comandante diria tudo. Quem realmente comanda um grupo assim o faz, pelo olhar. E se Washington tomou a iniciativa de pedir para bater, passando a frente de seus companheiros mais treinados, era por que se sentia confiante para marcar. Normalmente quando um jogador se sente confiante assim para converter um pênalti, os outros cedem. Mas o técnico sempre tem a última palavra. Do banco de reservas, Renato poderia fazer valer a sua autoridade e orderar que um dos três jogadores cobrasse o pênalti. Renato preferiu calar-se. E calado deveria ter ficado após o jogo. Já que abriu a boca, deveria ter lamentado publicamente a sua omissão. Em sua entrevista, ao culpar novamente os jogadores, o técnico revela seu caráter. Já dizia Confúcio: "O homem de bem exige tudo de si próprio. O homem medíocre espera tudo dos outros."

FICHA TÉCNICA - SÚMULA:
BOTAFOGO 1 X 0 FLUMINENSE
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)

Data - Hora: 20/04/2008 - 16h

Renda - Público: R$ 1.388.730,05 - 64.785 pagantes (68.840 presentes).
Árbitro: William de Souza Nery (RJ)
Assistentes: Paulo Sergio Durães Fernandes (RJ) e Marcos Tadeu Peniche Nunes (RJ)

Cartões Amarelos: Alessandro, Andre Luis, Lucio Flavio e Wellington Paulista (BOT); Cícero, Conca, Gabriel, Luiz Alberto e Thiago Neves (FLU)
Cartões Vermelhos: Alessandro, 30'/2ºT (BOT); Jorge Henrique, 48'/2ºT (BOT)
GOLS: Renato Silva, 39'/2ºT (1-0)


BOTAFOGO: Castillo, Renato Silva, Andre Luis e Triguinho (Túlio Souza, 23'/2ºT); Alessandro, Diguinho, Túlio (Leandro Guerreiro, intervalo), Lucio Flavio e Zé Carlos (Fábio, 20'/2ºT); Jorge Henrique e Wellington Paulista. Técnico: Cuca.

FLUMINENSE: Fernando Henrique, Gabriel, Thiago Silva, Luiz Alberto e Junior Cesar; Ygor (Tartá, 42'/2ºT), Arouca, Conca e Thiago Neves; Cícero e Washington. Técnico: Renato Gaúcho.