07 setembro 2008

O 3-5-2 sem alas

O técnico Cuca surgiu no futebol brasileiro como um meteoro. Após uma boa passagem pelo Goiás, treinou o São Paulo, Grêmio e Flamengo. Mas foi no Botafogo, a partir de 2006, onde seu trabalho brilhou com mais intensidade. Montou um grande time em 2007, em que os jogadores não guardavam posição e faziam o que alguns jornalistas chegaram a chamar de carrossel botafoguense. Assim como um meteoro, brilhou intensamente e queimou rapidamente até apagar quando entrou na atmosfera terrestre. Após a catastrófica e patética eliminação da Copa Sulamericana pelo River Plate, o grande time apagou-se e consumiu-se em brigas internas.

Cuca, apesar de todos os méritos por ter montado aquele time, não conquistou nenhum título e trocou de alvinegro. Foi treinar o Santos, onde fracassou vertiginosamente. Saiu de lá sem deixar saudades. Os jogadores o acusavam de treinar quatro esquemas diferentes durante a semana e aplicar um quinto esquema, não treinado, durante o jogo. "Não entendíamos o que ele dizia", chegou a comentar Molina. Os santistas também não gostavam dos três treinos diários, o primeiro deles começando às 7:00 da manhã. Coisa que ele cansou de fazer no Botafogo que, como todo clube carioca, é geralmente avesso a treinos.

No Fluminense substituiu Renato Gaúcho, que nunca foi técnico e tempouco gostava de trabalhar. É esperado que por pior que seja seu trabalho, o time mostre alguma evolução em relação ao time de Renato. E realmente isso tem acontecido. Temos visto alguma evolução em campo, algumas jogadas ensaiadas e a disposição que sempre acontece quando há uma troca de técnicos. Contudo, parece que Cuca ainda não superou sua passagem pelo Botafogo e vem repetindo no Flu os mesmos erros que cometeu no Santos.

Ontem, no Maracanã, o desesperado Fluminense jogava por uma vitória contra o líder Grêmio, para não voltar à zona do rebaixamento. O líder veio ao Rio traqüilo, após a derrota do vice-líder Palmeiras. Com uma vantagem de 5 pontos sobre o segundo colocado, o Grêmio jogou fechado, esperando voltar para casa com mais um ponto de vantagem. E conseguiu. Foi um jogo duro, disputado, marcado e corrido. O Grêmio não contava com o atacante colombiano Perea, suspenso. No jogo do turno ele havia marcado os dois gols da vitória gremista em Porto Alegre.

O Fluminense voltou a ser escalado no 3-5-2, com Éverton Santos e Júnior César nas alas. No ataque, Maicon fazia a dupla com Washington. No gol, Diego entrou no lugar de Fernando Henrique, contundido no ombro. O time não foi mal. Jogou de igual para igual com o líder e poderia ter chegado ao gol se Washington não tivesse perdido duas grandes oportunidades. Na primeira delas, Maicon fez bela jogada pela ponta e cruzou. Washington limpou o zagueiro mas chutou fraco permitindo que o goleiro encaixasse a bola. O Grêmio também teve suas chances. Numa delas, Diego saiu do gol e defendeu a bola nos pés do atacante gremista. Se Fernando Henrique estivesse jogando, ou teria cometido pênalti ou ficaria debaixo das traves assistindo ao gol do adversário.

Tudo ia relativamente bem. O time estava se encontrando em campo, Maicon ia fazendo boa partida, procurando jogadas pelas pontas que, inexplicavelmente não eram ocupadas por nenhum dos alas, Éverton Santos e Júnior César. Mas íamos bem. Havia esperança de conseguirmos uma vitória. Entretanto, Cuca resolveu inventar no segundo tempo. Em sua primeira mexida, trocou Fabinho por Somália. O Fluminense começou a perder o meio-campo e Somália embolava com Washington no meio. Sua segunda substituição conseguiu ser ainda pior. Tirou Maicon, o único jogador lúcido do ataque tricolor, e colocou Tartá, deslocando-o para a ala esquerda e trazendo Júnior César para o meio campo, para recompor o buraco deixado pela saída de Fabinho. Passamos a jogar num incrível 3-5-2 sem alas. A grande vantagem deste esquema tático é permitir a subida constantes dos alas que jogam com grande liberdade. Abel montou um excelente time sob este esquema em 2005, com Gabriel e Juan brilhando intensamente. Contudo, no 3-5-2 de Cuca, Júnior César foi deslocado para jogar de volante! Tartá, que entrou para fazer a ala, estava perdido em campo. Não sabia que posição do campo devia ocupar. Do outro lado, Éverton Santos continuou jogando a mesma bolinha murcha do primeiro tempo. O Fluminense desmontou e passou a ser dominado pelo Grêmio. Os jogadores tricolores passaram a jogar burocraticamente, esperando o final do jogo. Nos minutos finais, Washington provocou sua expulsão infantilmente. Voltamos à zona de rebaixamento e prevê-se muitas emoções para as próximas rodadas, principalmente se Cuca insistir com as suas
invencionices.

FICHA TÉCNICA - SÚMULA:

FLUMINENSE 0 X 0 GRÊMIO

Estádio: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Data/hora: 06/09/2008 - 18h20 (de Brasília)

Árbitro: Heber Roberto Lopes (Fifa-PR)
Auxiliares: Milton Otaviano dos Santos (RN) e Ivan Carlos Bohn (PR)

Renda/público: R$ 287.916,00 / 18.852 pagantes / 20.528 presentes

Cartões amarelos: Soares, Hélder, André (GRE); Everton Santos (FLU)
Cartões vermelhos: Washington, 42'/2ºT (FLU)

FLUMINENSE: Diego, Thiago Silva, Luiz Alberto e Roger; Everton Santos (Alan, 36'/2ºT), Fabinho (Somália, 4'/2ºT), Maurício, Conca e Junior Cesar; Maicon (Tartá, 13'/2ºT) e Washington. Técnico: Cuca.

GRÊMIO: Victor, Leo, Pereira e Réver; Paulo Sérgio, Rafael Carioca, William Magrão (Soares, 12'/2ºT), Tcheco e Hélder; Souza (Orteman, 19'/2ºT) e Marcel (André, 29'/2ºT). Técnico: Celso Roth.