31 janeiro 2009

Índio: A vergonha do futebol carioca

Já houve tempo em que o campeonato carioca era respeitado e considerado um dos melhores do país. Nesse tempo brilharam alguns dos maiores jogadores de todos os tempos, como Rivelino, Assis, Samarone e Romerito. Não por coincidência esse tempo também primava por árbitros respeitados e de excelente qualidade, como Arnaldo César Coelho e Ayrton Vieira de Morais. Nesse tempo, o Fluminense reinou absoluto, send o maior vencedor de campeonatos cariocas. Infelizmente, tudo que atinge o auge imediatamente inicia o processo de decadência. Desde 1986, ano em que o infame Caixa D'Água assumiu o poder na Federação de Futebol do Rio de Janeiro, não por coincidência o ano que ficou marcado pelo deprimente episódio das papeletas amarelas, desde este ano o futebol carioca iniciou o processo de decadência que aparentemente não tem fim.

Este ano, o campeonato iniciou de forma vergonhosa para todos os amantes do futebol. Na rodada de estréia, o Flamengo enfrentou o Friburguense no Maracanã. O jogo estava mais para o Flamengo, que não conseguia abrir o placar por causa da boa atuação do vetereano goleiro Adriano. No segundo tempo, o Friburguense arma um contra-ataque e faz um gol legítimo, invalidado pelo bandeirinha Luiz Antônio Muniz de Oliveira. O impedimento marcado pelo bandeirinha não existiu. O tira-teima da Rede Globo mostrou que o atacante do Friburguense estava a mais de 3 metros numa posição legal. O absurdo da marcação foi tão grande que nem mesmo quando o jogador chutou a bola ele estava em posição de impedimento. Nem mesmo quando comemorou!

Durante a semana os jornais mostraram uma reportagem em que conhecidos do bandeirinha diziam que ele era um flamenguista fanático nas rodas de conversa da Vila Militar. O bandeirinha foi suspenso por apenas 4 rodadas. Deveria ter sido sumariamente banido do futebol. Ora, ele não tem condições de exercer esta profissão se não consegue domar sua paixão. Se fez isso no jogo de estréia do Flamengo contra um time pequeno, imagine o que não fará numa final de campeonato!

Na segunda rodada, a arbitragem continuou a favorecer descaradamente o Flamengo. A vítima agora foi o Bangu, que vencia por 1 a 0, quando aos 37 minutos do segundo tempo o árbitro Djalma Beltrami inventou um pênati a favor do Flamengo (o segundo no mesmo jogo - Obina havia desperdiçado o primeiro). O mesmo Djalma Beltrami que foi o árbitro que beneficiou o Flamengo na final contra o Botafogo em 2007. Não satisfeito com o pênalti arranjado, ainda teve a coragem de anular um gol legítimo do Bangu em seguida. A coisa está tão escandalosa que até a imprensa flamenguista se rendeu às evidências. O jornal O Globo estampou uma pesquisa em que 76% dos torcedores acreditam que exista um complô da arbitragem para beneficiar o Flamengo. Ora, se é sabido que 50% da população carioca é flamenguista isso mostra que nem tudo está perdido e há vida inteligente nas hostes rubro-negras.

Leandro Amaral reclama com Índio

A bandalheira continuou hoje no Maracanã, quando o Fluminense entrou em campo desesperado atrás de sua primeira vitória contra o Resende. Já havia perdido na estréia para a Cabofriense e empatado em 0 a 0 contra o Madureira, sem apresentar bom futebol, o que era esperado, haja vista o grande número de contratações que o Fluminense faz a cada ano, numa política equivocada que apenas beneficia os empresários e torna o Fluminense mero coadjuvante no campeonato carioca. Enfim, a bandalheira atendeu pelo nome do medíocre Luiz Antônio Silva dos Santos, popularmente conhecido pela alcunha de "Índio", um dos mais desqualificados árbitros que a era Caixa D'Água produziu.

Roger sofre pênalti, ignorado por Índio

Índio roubou descaradamente, foi mal intencionado do início ao fim do jogo, irritando os tricolores e fazendo o possível para prejudicar o Fluminense. Tudo começou ao não marcar a falta sobre Roger, na entrada da área, talvez por estar em dúvida se a falta tinha sido cometido dentro ou fora da área. Arbitragem medíocre é assim, na dúvida não marca nada, e conseqüentemente o zagueiro agressor também ficou impune. Deu ainda cartão amarelo a Fabinho, que educadamente veio interpelá-lo (confira na seqüência de fotos). Na jogada seguinte, o córner é cobrado e a Edcarlos cabeceia a bola, que bate na mão do zagueiro do Resende. Pênalti? Poderia ser. Certamente seria, se fosse contra o Fluminense. Num lance muito menos evidente, Gutemberg de Paula Fonseca, outra aberração produziada na era Caixa D'Água marcou um pênalti contra o Flu a favor do Vasco. Na seqüência do lance, o Resende engata um contra-ataque e Fabinho se vê obrigado a matar a jogada com falta. Índio aproveita-se para aplicar-lhe o segundo cartão amarelo e a conseqüente expulsão. A imprensa flamenguista diria que Fabinho era o último homem e merecia o cartão. Ora, em primeiro lugar Fabinho não era o último homem por que havia ainda Fernando Henrique. E em segundo lugar, foi uma falta bem menos desleal que a sofrida por Roger, que não rendeu sequer advertência ao zagueiro do Resende. No intervalo, ainda aplicou mais um amarelo para o capitão Luiz Alberto e saiu de campo sob intensa vaia da torcida, que lembrava-o da profissão de sua mãe.

Apesar do roubo de Índio, o Fluminense foi vitorioso

No segundo tempo Índio conseguiu ser ainda pior. Parou um contra-ataque do Fluminense para que o atacante Roger fosse atendido pelos médicos, sem necessidade. Roger, irritado, levantou-se mostrando que não pedira atendimento, mas foi obrigado pelo juiz a sair de campo. Assim que saiu de campo, Roger pediu para voltar a campo, e foi imediatamente autorizado por Índio, com um movimento da mão. Roger entrou e foi obrigado a sair novamente. Índio alegou que não havia autorizado a sua entrada e deu-lhe um amarelo. Esse fato mostra toda a canalhice deste pulha, que não reúne condições morais para ser árbitro de futebol. Infelizmente o futebol carioca está nas mãos de pessoas como esses dois Luiz Antônios, caminhando para a sua destruição.

Quanto ao jogo em si, méritos para René, que soube controlar os jogadores no vestiário, focando-os no jogo. No segundo tempo, o Fluminense esqueceu o soprador de apito, concentrou-se na partida e venceu com sobras, principalmente depois da entrada de Tartá e Maicon, que incendiaram o jogo. Parabéns a René por ter deixado em campo o contestado Roger, vaiado e perseguido pela torcida, mas que mostrou-se útil, tendo participado dos três gols. René teve coragem de tirar de campo Leandro Amaral, o queridinho da torcida que não vinha jogando nada.

FICHA TÉCNICA - SÚMULA
FLUMINENSE 3 X 0 RESENDE

Estádio: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Data/hora: 31/1/2009 - 18h15 (de Brasília)
Árbitro: Luiz Antônio Silva dos Santos (RJ)
Auxiliares: Jorge Luis Campos Roxo (RJ) e Ivan Silva Araújo (RJ)
Renda e público: R$ 184.203,00 / 12.712 pagantes

Cartões amarelos: Fabinho, Fernando Henrique, Leandro Amarale e Luiz Alberto (FLU); Cléber, Felipinho, Léo e Breno (RES)
Cartões Vermelhos: Fabinho (FLU); Bruno Leite (RES)

GOLS: Luiz Alberto, 22'/2ºT (1-0), Maicon, 24'/2ºT (2-0), Leandro Bomfim, 34'/2ºT (3-0)

FLUMINENSE: Fernando Henrique, Wellington Monteiro (Maicon), Luiz Alberto, Edcarlos e Leandro; Jaílton, Fabinho, Leandro Bomfim e Conca (Diguinho); Leandro Amaral (Tartá) e Roger. Técnico: René Simões.

RESENDE: Cléber, Bruno Leite, Naílton, Breno e Felipinho (Esquerdinha); Beto (Marcio Gomes), Fred, Fábio Azevedo e Léo; Fabiano e Bruno Meneghel. Técnico: Antônio Carlos Roy

10 janeiro 2009

Jogos de 1913

1913 não foi um bom ano para o Fluminense, ainda tentando se recuperar da baixa dos seus 9 titulares campeões de 1911 que haviam se bandeado para o Flamengo no ano anterior. No campeonato carioca, com apenas cinco vitórias em quinze jogos, não passou de uma quinta colocação, atrás do América, que conquistava seu primeiro título, Botafogo, Flamengo e Paysandu. A destacar a sonora goleada por 10 a 2 contra o fraquíssimo time do Mangueira, nas Laranjeiras, e no jogo seguinte, na derrota para o Botafogo por 3 a 0 em General Severiano, a estréia do inglês Welfare, que viria a se tornar o maior artilheiro tricolor na era do amadorismo, com 163 gols.

Neste ano, mesmo tendo jogado apenas as últimas seis partidas do campeonato, Welfare seria o artilheiro tricolor, marcando seis gols, inclusive dois na revanche contra o Botafogo, nas Laranjeiras, em 1º de novembro.

Seleção carioca em 1913A seleção carioca que enfrentou o Corinthians Casuals nas Laranjeiras
e contava com dois tricolores no ataque: Oswaldo Gomes (1º à esquerda) e Welfare (no centro), sentados.


03/05/1913 - Fluminense 4 x 5 Paysandu Cricket
Campeonato Carioca 1913
Local: Laranjeiras
Fluminense: José Marques, Pedreira, Armínio Motta, Pernambuco, Mutzembecker, Martim, Oswaldo Gomes, Bartholomeu, Batista, Jorge, Ernâni. Técnico: Ground Commitee
Gols do Fluminense: Bartholomeu(2), Batista(2)

01/06/1913 - Fluminense 1 x 3 América
Campeonato Carioca 1913
Local: Laranjeiras
Juiz: Brewerton
Fluminense: José Marques, Armínio Motta, Motta Maia, Torres, Mutzembecker, Pernambuco, Bartholomeu, Batista, Jorge, Oswaldo Gomes, Ernâni. Técnico: Ground Commitee
América: Marcos; Luiz Mendonça, Belfort; Mendes, Jônatas, Lincoln; Witte, Juquinha, Ojeda, Gabriel e Aleluia
Gol do Fluminense: Oswaldo Gomes
Gols do América: Gabriel(2) e Ojeda

08/06/1913 - Fluminense 4 x 1 Bangu
Campeonato Carioca 1913
Campo: Rua Ferrer
Juiz: Hugh Pullen
Fluminense: José Marques, Armínio Motta, Pedreira, Torres, Mutzembecker, Motta Maia, Bartholomeu, Batista, Jorge, Oswaldo Gomes, Ernâni. Técnico: Ground Commitee
Bangu: Sebastião, José da Silva, Antônio Carregal, Stirling, Roldão, Luiz Antônio, Leão, Loth, Lopes, Chiquinho, Telles
Gol do Bangu: Telles

22/06/1913 - Fluminense 5 x 1 Americano do Rio
Campeonato Carioca 1913
Local: General Severiano
Fluminense: Victor Silva, Armínio Motta, Motta Maia, Torres, Mutzembecker, Pernambuco, Bartholomeu, Batista, Martim, Oswaldo Gomes, Rufino. Técnico: Ground Commitee

06/07/1913 - Fluminense 5 x 2 Rio Cricket
Campeonato Carioca 1913
Local: Laranjeiras
Fluminense: Victor Silva, Armínio Motta, Pedreira, Torres, Mutzembecker, Pernambuco, Bartholomeu, Batista, Vidal, Oswaldo Gomes, Ernâni. Técnico: Ground Commitee
Gols do Fluminense: Vidal(2), Oswaldo Gomes, Ernâni, Contra

27/07/1913 - Fluminense 2 x 2 São Cristóvão
Campeonato Carioca 1913
Local: Campo de São Cristóvão
Fluminense: Victor Silva, Armínio Motta, Pedreira, Renato Lago, Mutzembecker, Pernambuco, Bartholomeu, Batista, Vidal, Oswaldo Gomes, Ernâni. Técnico: Ground Commitee
Gols do Fluminense: Vidal, Oswaldo Gomes

03/08/1913 - Fluminense 3 x 6 Flamengo
Campeonato Carioca 1913
Local: General Severiano
Juiz: Eric Pullen
Fluminense: Victor Silva, Pedreira, Armínio Motta, Martim, Mutzembecker, Pernambuco, Bartholomeu, Batista, Vidal, Oswaldo Gomes, Ernâni. Técnico: Ground Commitee
Flamengo: Baena, Píndaro, Nery, Andrews, Amarante, Galo, Pinho, Gumercindo, Baiano, Borgerth e Pedro Alves
Gols do Fluminense: Batista, Vidal, Oswaldo Gomes
Gols do Flamengo: Gumercindo (2), Borgerth (2), Baiano e Pinho

17/08/1913 - Fluminense 10 x 2 Mangueira
Campeonato Carioca 1913
Local: Laranjeiras
Fluminense: Victor Silva, Pedreira, Armínio Motta, Martim, José Bello, Pernambuco, Bartholomeu, Batista, Hugo, Oswaldo Gomes, Ernâni. Técnico: Ground Commitee

31/08/1913 - Fluminense 0 x 3 Botafogo
Campeonato Carioca 1913
Local: General Severiano
Fluminense: Victor Silva, Pedreira, Armínio Motta, Raul, Mutzembecker, Pernambuco, Bartholomeu, Batista, Welfare, Oswaldo Gomes, Vidal. Técnico: Ground Commitee

28/09/1913 - Fluminense 2 x 2 Paysandu Cricket
Campeonato Carioca 1913
Local: Laranjeiras
Fluminense: Victor Silva, Armínio Motta, Vidal, Torres, Raul, Pernambuco, Bartholomeu, Batista, Welfare, Oswaldo Gomes, Gilbert Hime. Técnico: Ground Commitee
Gols do Fluminense: Welfare(2)

12/10/1913 - Fluminense 4 x 5 América
Campeonato Carioca 1913
Rua Campos Sales
Juiz: Hugo Graham
Fluminense: Félix Frias, Vidal, Armínio Motta, Torres, Raul, Pernambuco, Oswaldo Gomes, Robertson, Welfare, Gilbert Hime, Batista. Técnico: Ground Commitee
América: Marcos; Luiz, Belfort; Mendes, Jônatas, Lincoln; Witte, Gabriel, Ojeda, Osman, Aleluia
Gols do Fluminense: Oswaldo Gomes, Welfare(2), Batista
Gols do América: Witte, Ojeda, Osman(2) e Gabriel

19/10/1913 - Fluminense 1 x 3 Rio Cricket
Campeonato Carioca 1913
Local: Icaraí, Niterói/RJ
Fluminense: José Gomes Coimbra, José Bello, Armínio Motta, Torres, Raul, Pernambuco, Oswaldo Gomes, Bartholomeu, Welfare, Batista, Ernâni. Técnico: Ground Commitee

01/11/1913 - Fluminense 3 x 0 Botafogo
Campeonato Carioca 1913
Local: Laranjeiras
Fluminense: José Gomes Coimbra, Vidal, Armínio Motta, Torres, Raul, Pernambuco, Robertson, Bartholomeu, Welfare, Batista, Gilbert Hime. Técnico: Ground Commitee
Gols do Fluminense: Welfare(2), Batista

09/11/1913 - Fluminense 0 x 3 Flamengo
Campeonato Carioca 1913
Local: Laranjeiras
Juiz: Edgard Pullen
Fluminense: Roxo, Vidal, Armínio Motta, Torres, Raul, Pernambuco, Oswaldo Gomes, Bartholomeu, Welfare, Gilbert Hime, Batista. Técnico: Ground Commitee
Flamengo: Baena, Píndaro, Nery, Angelo, Amarante, Galo, Baiano, Arnaldo, Gumercindo, Riemer e Raul
Gols do Flamengo: Riemer (2) e Raul

15/11/1913 - Fluminense 0 x 0 São Cristóvão
Campeonato Carioca 1913
Local: Laranjeiras
Fluminense: Roxo, Martim, Armínio Motta, Torres, Raul, Jorge, Robertson, Vidal, Batista, Gilbert Hime, Bartholomeu. Técnico: Ground Commitee

Veja também:
Jogos de 1912
Jogos de 1914

03 janeiro 2009

Roger, um herói que se vai

Roger
Hoje tive a tristeza de ler nos jornais que Roger não é mais jogador do Fluminense. A impressão que tive é que Roger chegou muito tarde ao Fluminense. Roger é um jogador das antigas, daqueles tempos em que os jogadores ficavam em um só clube por toda uma carreira. Roger só atuou em três clubes em sua carreira: o Grêmio; o Vissel Kobe, no Japão e o Fluminense. Chegou no Fluminense aos 30 anos, uma pena. Mesmo assim ainda pôde brilhar como ídolo, fazendo o gol do nosso título mais importante dos últimos 25 anos.

Mais do que o gol do título, Roger foi um exemplo de vida, em tudo o que fez. Honesto, íntegro, correto, um jogador raro. Dentro de campo, um leão, um zagueiro que quando caía pela lateral ensinava aos nossos laterais como é que se joga. Suas arrancadas eram mortais. Sabia o que fazer quando chegava à linha de fundo, cruzava a bola com a perfeição de quem foi lateral por mais de dez anos. Quando estava na área, tinha a calma dos atacantes para marcar. É um jogador diferenciado.

Nunca vou me esquecer do jogo contra o Internacional, pelo campeonato brasileiro de 2007. Era a última partida antes das finais da Copa do Brasil, contra o Figueirense e o técnico Renato Gaúcho escalara o time reserva. Pouco mais de 4 mil tricolores compareceram ao Maracanã para ver uma pequena obra-prima. Roger formava a zaga com Anderson. Não era um time reseva qualquer, pois além de Roger, Thiago Neves jogava no meio campo. Fazer o quê? Renato Gaúcho não enxergara que Thiago Neves jogava mais que o Carlos Alberto... Mas enfim, vencíamos por dois a zero, o primeiro gol, um golaço de falta de Thiago Neves, e o segundo gol foi um belo lançamento do David para o Rafael. Aos 12 minutos do segundo tempo, o Internacional ataca e Roger, dentro da área corta a bola, que sobra mais à frente aos pés de outro jogador colorado. Roger divide a bola, ganha a dividida e inicia a arrancada. Atravessa o meio campo, onde passa a ser seguido de perto por um defensor do Inter. Continua em frente, mesmo marcado, até chegar à linha de fundo, quando o jogador do Inter toma-lhe a frente da bola. Parecia que a jogada estava perdida, mas Roger se atira ao chão e com um carrinho, atinge a bola e faz um cruzamento perfeito para o Tiuí, que entrava livre no meio da área. Gol! Três a zero para o Fluminense. Um gol genial, marcado por Tiuí, mas que teve a assinatura de Roger.

Infelizmente o Fluminense é um clube que maltrata seus ídolos. Roger não foi o primeiro, o mesmo descaso aconteceu há pouco tempo com o Marcão. No passado, ídolos como Flávio, o Minuano, Batatais, Veludo e Castilho também sofreram com a ingratidão da diretoria tricolor. Definitivamente, o Fluminense, sua torcida e seus jogadores não merecem a diretoria que têm.

Ao Roger, nosso sicero agradecimento e, como homenagem, sua carta de despedida:

"DESPEDIDA AOS TRICOLORES. AOS VERDADEIROS.

"Cheguei ao Rio de Janeiro com a minha cara e a personalidade de gaúcho. Anos e anos no Grêmio. Imagem formada no Rio Grande do Sul, onde cresci e ganhei muitos títulos. Vindo do Japão, com outra cultura enraizada, pensei o quanto complicada seria a minha volta ao futebol. Pensei em parar. Estudar e me formar. Mas veio um convite. Outro tricolor na minha vida.

"O Fluminense me abria as portas para um mercado novo e capaz de alavancar ainda mais a minha carreira. Senti pelo clima na chegada que a cidade do Rio de Janeiro seria muito boa pra mim. Amigos, irmãos, parceiros. O carioca tem esta característica, de abraçar as pessoas e assim me motivei e me senti de novo em casa. Tive um primeiro ano ruim, me adaptando, mas também me lesionando. Lateral ou zaga? Sempre na dúvida, até que me decidi mesmo pela zaga, onde seria mais útil. Foi assim que em 2007 fizemos a grande campanha da Copa do Brasil e conquistamos o título. Uma alegria que acho que carreguei sozinho pelos olhos da torcida, por ter sido o autor do gol, mas na verdade fizemos um grupo imbatível, amigo e campeão. Era hora de seguirmos na Libertadores. Era um sonho para o clube.

"Fizemos um ano de 2008 brilhante. A Libertadores não veio por detalhes, mas me orgulhei outra vez de estar junto com atletas de alto nível e que se espenharam demais. A torcida foi maravilhosa. Incrivelmente apaixonada, ela entendeu o esforço de todos e viu que ninguém tirou o pé. Eu passava por mais um capítulo em minha história. Uma história bonita e de amor por um outro clube de três cores. Aliás, descobri que tudo que tem três me encanta. Até minha camisa passou a ser a três e não a seis. E na Libertadores, lá estava ele de novo, o 3 na camisa 13.

"Chegava então o fim do ano. Não foram três, mas foi uma hérnia que me ajudou a tirar o prazer de poder ajudar o grupo, que numa situação difícil brigava para não cair no Brasileiro. Nos livramos, mas meu sentimento era de dor, interna e externa. Sem poder ajudar, só que intenso na ajuda pessoal. Todo dia cedo, como sempre fiz. Amigo, companheiro, conselheiro. O time ficou na série A, mas eu saí. Me senti afastado, alijado, longe de tudo aquilo que sempre tratei com enorme carinho, mesmo vendo problemas e dificuldades. Mas o Roger era legal, nunca abria a boca. Um exemplo!!

"Mas aí faltaram mais uma vez três palavras básicas no meu conceito de relacionamento humano e de trabalho: respeito, atitude e gratidão. Fui acometido de uma enorme tristeza pelo que vi nos jornais deste dia 2 de janeiro. Estava dispensado pela mídia. Passaram as festas, fiquei na expectativa de que pelo menos pudesse receber um telefonema, para me sentir moralmente liberado e poder aceitar outras propostas que vieram, mas que recusei em respeito ao meu compromisso com o clube até 31 de dezembro. Ficar? Não acreditava, verdadeiramente. Renovar? Achava difícil. O clube podia ter achado alguém mais jovem, mais barato. Perfeito. Esta é a ordem natural da vida, apesar de me sentir bem ao extremo para render forte em pelo menos mais dois ou três anos. Só que nem sobre o meu tratamento quiseram saber mais. Hérnia? Que hérnia? Eu sei me cuidar sozinho!! Mas este é o futebol. Ou será que esta é a vida do futebol? Vejo pelos exemplos de jogadores que com muito mais representatividade que eu num clube são sumariamente dispensados. O que mais me assusta, no entanto, é ver que os menos profissionais, que fazem e acontecem em seus períodos de contrato, com atrasos, bebidas e outras coisitas mais, saem da mesma forma que os que se comportam de forma profissional e regrada. Eu não mudo. Que mudem os outros.

"Aproveito esta carta para me despedir dos verdadeiros tricolores cariocas. Os roupeiros, massagistas, tratadores de campo, porteiros do clube, cozinheiros e garçons, seguranças e todos aqueles que pouco aparecem, mas que merecem meu apoio. Estes são amigos, profissionais e tricolores. E me despeço com enorme prazer do torcedor 30 vezes campeão do Rio. Este é maravilhoso e me fez gostar da cidade, do clube e de defender as três cores que traduzem tradição com todo coração. Muito obrigado, até breve e esperando ter deixado em todos uma imagem positiva e capaz de ser, mesmo daqui há muitos anos, abraçado por aqueles que me abraçaram assim que cheguei na cidade maravilhosa.

"Saudações trilegais de um tricolor de coração."

02 janeiro 2009

1912: O primeiro Fla-Flu

Em 1912, o Fluminense era um time esfacelado. No ano anterior conquistara o campeonato carioca invicto e com 100% de aproveitamento, mas o sucesso despertara vaidades e rivalidades que levaram a uma profunda cisão. Nove jogadores do time titular abandonaram o clube para fundar o departamento de futebol do Flamengo. Fiéis ao Fluminense permaneceram apenas dois titulares: Oswaldo Gomes e James Calvert.

O recém-criado Flamengo se apresentava assim, como o grande favorito para a conquista do título de 1912. Ao Fluminense restava apenas tentar um milagre com um time formado por nove reservas e os dois fiéis titulares. Milagre que se mostrou cada vez mais longe após os dois primeiros jogos do campeonato, quando perdemos em casa para Rio Cricket e Paysandu, este jogo uma sonora goleada por 5 a 0. O Fluminense conseguiria sua primeira vitória na terceira rodada, um magro 1 a 0 sobre o São Cristóvão, no campo deles. No clássico contra o América, em Campos Sales, na quarta rodada, um empate sem gols mostrou alguma evolução do time, mas não o suficiente para alguém apontar o Fluminense como favorito no primeiro Fla-Flu da história, que aconteceria na quinta rodada, no dia 7 de julho.

Todos esperavam que o Flamengo massacrasse o Fluminense, afinal, o Flamengo vinha muito bem no campeonato, havia goleado o Mangueira por incríveis 16 a 2, o América por 6 a 3 e o Bangu por 7 a 4. Os reservas do Fluminense não poderiam fazer frente aos campeões de 1911, essa era a expectativa de todos, até mesmo da imprensa. O jornal “O Paiz”, talvez na primeira manifestação da fla-imprensa, publicara que “à equipe do Flamengo (...), por todas as razões, se impunha a sua vitória”. Tal era o clima que cercava a partida naquela tarde clara de 7 de julho, quando os dois times se enfrentaram no campo da Rua Guanabara, nas Laranjeiras.

A verdade é que depois que a bola rolou toda a empáfia flamenguista se desmanchou como um castelo de cartas. Não se sabe exatamente o que se passou na cabeça dos flamenguistas, se menosprezaram o adversário ou se estavam envergonhados por terem virado a casaca. Não importa. Sabe-se exatamente o que se passou na cabeça, na alma dos tricolores, que se transformaram em heróis, correram como nunca, suaram, multiplicaram-se em mil e conquistaram uma vitória épica, que nunca poderá ser vingada.

O Fluminense abriu o placar logo no primeiro minuto. O Flamengo empatava logo em seguida, e o jogo prosseguia disputadíssimo, longe de ser a moleza que se esperava. No segundo tempo, aos 17 minutos, o Fluminense tem uma falta a seu favor e James Calvert, o artilheiro de 1911 e um dos dois jogadores que preferira permanecer no Fluminense, cobrou-a sem força, mas o goleiro flamenguista Baena aceitou e tomou um frango. O Fluminense estava novamente na frente do placar e os flamenguistas sentiam o peso que essa derrota poderia causar. Partiram desesperados para tentar o empate, e conseguiram, a dois minutos do final. Suspiraram aliviados e relaxaram. Não imaginavam o castigo que sofreriam no último minuto do jogo. Dada a saída, o Flu lançou-se ao ataque pela ponta esquerda, Calvert cruzou forte e rasteiro e Bartholomeu penetrou rápido pela zaga flamenguista para fuzilar o goleiro e fechar o placar em 3 a 2.

Os tricolores celebraram como se fosse um campeonato. Os flamenguistas entreolhavam-se incrédulos. Aquela derrota lhes custaria o campeonato. Graças àqueles dois pontos perdidos, o Flamengo perderia o campeonato de 1912 para o Paysandu.

No dia 7 de julho de 1912, o Fluminense venceu o primeiro Fla-Flu da história.
O gol da vitória por 3 a 2 foi marcado no último minuto por Barthô.


03/05/1912 - Fluminense 1 x 2 Rio Cricket
Campeonato Carioca 1912
Local: Laranjeiras
Fluminense: Victor Etchegaray, José Bello, Luiz Maia, João Leal, Mutzembecker, Henry Crashley, Bartholomeu, Oswaldo Gomes, Berhmann, Ernesto Paranhos, James Calvert. Técnico: Charles Williams
Gol do Fluminense: Berhmann

26/05/1912 - Fluminense 0 x 5 Paysandu Cricket
Campeonato Carioca 1912
Local: Laranjeiras
Juiz: Luiz Mendonça
Fluminense: Victor Etchegaray, Luiz Maia, José Bello, Richter, Bartholomeu, João Leal, Oswaldo Gomes, Berhmann, Ernesto Paranhos, Edward Calvert, James Calvert. Técnico: Charles Williams
Paysandu Cricket: H. Coggin; E. Pullen, Smart; H. Wood, Tom Robinson, MacIntyre; Monk, I. Raven, H. Robinson, Sidney Pullen, R. Martin
Gols do Paysandu Cricket: H. Robinson(3), I. Raven (2)

02/06/1912 - Fluminense 1 x 0 São Cristóvão
Campeonato Carioca 1912
Local: Campo de São Cristóvão
Fluminense: Laport, Luiz Maia, José Bello, Richter, Bartholomeu, João Leal, Oswaldo Gomes, Berhmann, Ernesto Paranhos, Edward Calvert, Azevedo. Técnico: Charles Williams
Gol do Fluminense: Ernesto Paranhos

09/06/1912 - Fluminense 0 x 0 América
Campeonato Carioca 1912
Rua Campos Sales
Juiz: W. Mac Gregor
Fluminense: Laport, Luiz Maia, José Bello, João Leal, Mutzembecker, Ernesto Paranhos, Oswaldo Gomes, Bartholomeu, Raul, Edward Calvert, Berhmann. Técnico: Charles Williams

16/06/1912 - Fluminense 1 x 4 Paulistano
Amistoso
Local: Laranjeiras
Juiz: Frank Robinson
Fluminense: Laport, José Bello, Luiz Maia, João Leal, Mutzembecker, Martim, Oswaldo Gomes, Bartholomeu, Raul, Pernambuco, Berhmann. Técnico: Charles Williams
Gol do Fluminense: Bartholomeu

07/07/1912 - Fluminense 3 x 2 Flamengo
Campeonato Carioca 1912
Local: Laranjeiras
Juiz: Frank Robinson
Fluminense: Laport, Luiz Maia, José Bello, Pernambuco, Mutzembecker, João Leal, Oswaldo Gomes, Bartholomeu, Berhmann, Edward Calvert, James Calvert. Técnico: Charles Williams
Flamengo: Baena, Píndaro, Nery, Cintra, Gilberto, Galo, Baiano, Arnaldo, Borgerth, Gustavo e Amarante
Gols do Fluminense: Bartholomeu, Edward Calvert, James Calvert
Gols do Flamengo: Arnaldo e Píndaro

14/07/1912 - Fluminense 3 x 2 Bangu
Campeonato Carioca 1912
Campo: Rua Ferrer
Juiz: Hugo Graham
Fluminense: Augusto Rodrigues, Luiz Maia, José Bello, Pernambuco, Mutzembecker, João Leal, Oswaldo Gomes, Bartholomeu, Berhmann, Edward Calvert, Ernesto Paranhos. Técnico: Charles Williams
Bangu: Heráclito, Lobo Júnior, Antônio Carregal, Accácio, Roldão, José da Silva, Leão, Castor, Narciso, Chiquinho, Virgílio
Gols do Bangu: Accácio e Virgílio

21/07/1912 - Fluminense 3 x 0 Mangueira
Campeonato Carioca 1912
Local: Laranjeiras
Juiz: B. Waneton
Fluminense: José Marques, Luiz Maia, José Bello, Pernambuco, Mutzembecker, João Leal, Oswaldo Gomes, Roesch, Berhmann, Edward Calvert, Ernesto Paranhos. Técnico: Charles Williams

04/08/1912 - Fluminense 6 x 1 São Cristóvão
Campeonato Carioca 1912
Local: Laranjeiras
Fluminense: José Marques, José Bello, Luiz Maia, João Leal, Mutzembecker, Pernambuco, Oswaldo Gomes, Bartholomeu, Berhmann, Ernesto Paranhos, Edward Calvert. Técnico: Charles Williams
Gols do Fluminense: Bartholomeu, Berhmann, Ernesto Paranhos(4)

18/08/1912 - Fluminense 4 x 1 Bangu
Campeonato Carioca 1912
Local: Laranjeiras
Juiz: Antônio Fonseca
Fluminense: José Gomes Coimbra, José Bello, Luiz Maia, João Leal, Mutzembecker, Pernambuco, Oswaldo Gomes, Bartholomeu, Ernesto Paranhos, Rocha, Edward Calvert. Técnico: Charles Williams
Bangu: Galvão, Guilherme Pastor e Antônio Carregal; Luiz Antônio, Roldão e Accácio; John Hellowell, Leão, Castor, Virgílio e Felício.

01/09/1912 - Fluminense 2 x 2 Rio Cricket
Campeonato Carioca 1912
Local: Icaraí, Niterói/RJ
Juiz: Hugo Graham
Fluminense: José Marques, José Bello, Luiz Maia, João Leal, Mutzembecker, Pernambuco, Oswaldo Gomes, Bartholomeu, Ernesto Paranhos, Rocha, Gilbert Hime. Técnico: Charles Williams

29/09/1912 - Fluminense 1 x 2 América
Campeonato Carioca 1912
Local: Laranjeiras
Fluminense: José Marques, José Bello, Luiz Maia, João Leal, Edgard Gulden, Pernambuco, Oswaldo Gomes, Horácio Cox, Berhmann, Rocha, Edward Calvert. Técnico: Charles Williams

06/10/1912 - Fluminense 1 x 0 Mangueira
Campeonato Carioca 1912
Rua Campos Sales
Juiz: Antônio Peses
Fluminense: José Marques, José Bello, Luiz Maia, João Leal, Martim, Pernambuco, Oswaldo Gomes, Jayme Rosado, Edgard Gulden, Lourenço Silveira, Edward Calvert. Técnico: Charles Williams

20/10/1912 - Fluminense 2 x 4 Paysandu Cricket
Campeonato Carioca 1912
Local: Laranjeiras
Juiz: Hugo Graham
Fluminense: José Marques, José Bello, Luiz Maia, Pernambuco, Mutzembecker, João Leal, Oswaldo Gomes, Berhmann, Ernesto Paranhos, Gilbert Hime, Horácio Cox. Técnico: Charles Williams
Paysandu Cricket: C. Robinson; E. Pullen, Smart; H. Wood, Tom Robinson, MacIntyre; Monk, Sidey Pullen, H. Robinson, Leslie Pullen, Gillan
Gols do Fluminense: Berhmann, Gilbert Hime
Gols do Paysandu Cricket: H. Robinson (2), Sidney Pullen e Leslie Pullen

27/10/1912 - Fluminense 0 x 4 Flamengo
Campeonato Carioca 1912
Local: Laranjeiras
Juiz: Harry Robinson
Fluminense: José Marques, José Bello, Luiz Maia, Pernambuco, Mutzembecker, João Leal, Oswaldo Gomes, Berhmann, Ernesto Paranhos, Horácio Cox, Ernâni. Técnico: Charles Williams
Flamengo: Cazuza, Píndaro, Nery, Andrews, Amarante, Galo, Baiano, Arnaldo, Miguel, Borgerth e Paulo Buarque
Gols do Flamengo: Baiano (3) e Miguel

Veja também:
Jogos de 1911
Jogos de 1913