Quando finalmente entrei pude ver um primeiro tempo arrastado, chato, com um futebol feio. Tentava identificar os novos jogadores do Flu e algum padrão de jogo no time. Não consegui ver padrão de jogo. Quero dizer, no Fluminense, pois o Friburguense tinha padrão de jogo bem definido. Com suas limitações, o Friburguense enfrentava de peito aberto o Fluminense, com muita marcação e disposição. Quanto aos jogadores, pouco a pouco fui me familiarizando com eles. Quem chamou a atenção foi o Carlinhos, apoiando bastante o ataque e procurando sempre a linha de fundo. Cruza muito bem. As principais jogadas de ataque do Flu partiam da direita, de seus cruzamentos. Ou de cobranças de escanteio, também muito bem executadas, cobradas da maneira como eu gosto: da ponta direita, com o pé direito. Assim as bolas chegam na área mais ou menos na marca do pênalti, onde os companheiros têm a facilidade de cabeceá-la de frente para o gol. Pena que os jogadores do Flu desperdiçaram todas as oportunidades, principalmente os dois zagueiros, Luiz Alberto e Renato Silva.
A dupla de ataque mostrou desentrosamento. Rafael Moura reforçou a impressão que eu já tinha a seu respeito: trata-se de um Tuta jovem. Alex Dias errava muitos passes, coisa que eu credito ao desentrosamento com os companheiros e ao seu próprio estilo de jogo, que é muito propício ao erro, já que toca muito a bola de primeira. É um estilo muito bonito de jogo, mas é preciso que tenha um companheiro de ataque inteligente e que também toque de primeira. Não é à toa que fez tanto sucesso no Vasco quando jogou ao lado do Romário. Não vejo o Rafael Moura com potencial para ser o companheiro de ataque de Alex Dias, mas vamos dar tempo ao tempo e uma chance ao He-Man. O gol da vitória tricolor saiu num chute cruzado de Alex Dias, após receber um belo passe de Carlinhos e contou com a falha do bom goleiro Adriano, que costuma fechar o gol contra a gente.
No meio campo, Cícero era uma das mais esperadas estréias. Depois de um campeonato brasileiro muito bom pelo Figueirense no ano passado, o Fluminense venceu a briga com vários clubes brasileiros, entre eles o poderoso São Paulo, e contratou-o, juntamente com Soares, que começou no banco, e entrou no segundo tempo, no lugar do Rafael Moura. Não entendi o PC Gusmão. Em vez de aproveitar o entrosamento dos dois, tirou Cícero de campo logo após a entrada do Soares e a dupla jogou apenas 11 minutos juntos. E ficaram devendo. Cícero fez uma estréia tímida. Soares parecia estar mais empolgado e mostrou muita correria. Cada um perdeu um gol feito. Cícero escorou de esquerda um cruzamento de Júnior César para fora e Soares perdeu a chance mais clara de gol, nos acréscimos quando entrou livre, cara a cara com o goleiro Adriano e deixou-o tomar a bola ao tentar o drible.
Carlos Alberto foi contratado para ser o astro, o camisa 10, o ídolo. E reestreou disposto a sê-lo. Talvez tenha sido este o motivo de não ter me agradado. Além de estar fora de forma, procurou quase sempre a jogada individual. Ele tem muita habilidade com a bola nos pés, é verdade, mas na posição em que joga ele tem que soltar mais a bola. Por várias vezes poderia ter passado a bola a um companheiro melhor colocado, não o fez e estragou a jogada. Espero que ao longo do ano Carlos Alberto se conscientize que tem que jogar para o time. Só assim poderá se tornar um astro.
Os volantes jogaram muito bem. Todos os dois, Arouca e Romeu. É meio redundância falar que o Arouca jogou bem, mas é tão bom repetir isso... O Romeu também foi bem. Não tem o futebol clássico do Arouca mas deu pro gasto e está evoluindo. Não gostei da atuação do Júnior César, que apoiou muito pouco o ataque, justamente o seu ponto forte. Não sei se foi a pedido do técnico PC Gusmão, a verdade é que o Júnior César quase não se aventurou além da intermediária adversária e não me lembro de tê-lo visto à linha de fundo. Jogando defensivamente, é um jogador fraco e perderá a posição para o Roger. Na zaga, gostei muito do Luiz Alberto, muito seguro. Seu companheiro Renato Silva não jogou bem, sentiu a estréia. Foi envolvido várias vezes e ganhou um cartão amarelo de bobeira. Se continuar assim, também perderá a posição facilmente para o Thiago Silva. Berna foi pouco exigido e bateu roupa numa bola defensável. O Friburguense não chegou ao empate neste lance graças ao Luiz Alberto. Thiago Neves substituiu Cícero e o Fluminense continuou sem conseguir criar no meio-campo. Nos minutos finais entrou David no lugar de Carlinhos e mostrou um boa movimentação no pouco tempo em que jogou.
Em linhas gerais não gostei do que vi. Eu sei que é cedo para cobrarmos alguma coisa do PC Gusmão, o time ainda está se conhecendo e muitos jogadores ainda não estão na sua melhor forma, mas também não temos muito tempo pela frente. O campeonato é curto e nossos adversários largaram na frente por que mantiveram a base do ano passado. O Vasco, que estreou no mesmo horário enfrentando o Nova Iguaçu em São Januário, é candidato ao melhor meio-campo do Rio, talvez do Brasil: Conca e Morais. Dois jogadores jovens, rápidos e inteligentes. Se o Renato Gaúcho for esperto poderá extrair muito desta dupla. Ontem, cada um dos dois deu um belo passe que resultou em gol na vitória por 2 a 0. Continuo afirmando que o Vasco é um dos favoritos ao título do Carioca. Já o Botafogo, meu outro favorito, queimou a minha língua ao empatar com o Madureira de Maicon, Djair e Marcelo, no jogo de fundo. Acho que não preciso falar mais nada depois de citar esses três jogadores. Todos eles já jogaram no Flu. Djair já era lento quando foi campeão pelo Flu em 1995. Maicon irrita pela lerdeza, e Marcelo é aquele mesmo perdedor de gols marrento que tropeçou na bola num Fla-Flu, cara a cara com o goleiro. Não é possível tomar contra-ataque de um time assim e o Botafogo tomou vários. Valdir Papel fez dois gols muito bonitos e se não fosse a ruindade do Marcelo o Madureira poderia ter feito quatro gols.
Bem, mas vamos voltar ao Fluminense. Não gostei do que vi, mas gostei do placar. 1 a 0 foi o placar ideal. Ganhamos três pontos e não iludimos ninguém. A torcida no ano passado pagou o mico de gritar “é campeão” na segunda rodada depois de duas goleadas e o time acabou não se classificando para nenhuma semifinal, nem na Taça Guanabara, nem na Taça Rio. Este ano a euforia pela contratação dos novos jogadores já começa a desaparecer com esse resultado magro e isso é bom. É bom botarmos os pés no chão, calçarmos as sandálias da humildade porque temos muito trabalho pela frente.
FICHA TÉCNICA - SÚMULA
FLUMINENSE 1 X 0 FRIBURGUENSE
Estádio: Maracanã, Rio de Janeiro
Data/hora: 24/1/2007 - 19h30min (de Brasília)
Árbitro: Marcelo de S. Pinto
Auxiliares: Marcelo Fonseca Duarte(RJ) e Ediney Guerreiro Mascarenhas(RJ)
Cartões Amarelos: Bidu, Crispim e Daniel(FRI); Renato Silva(FLU)
GOL: Alex Dias - 15'/2ºT (1-0)
Borderô
Público: 31.158 pagantes
Renda: R$ 469.665,00
FLUMINENSE: Ricardo Berna; Carlinhos(David - 40'/2ºT), Renato Silva, Luiz Alberto e Junior Cesar; Arouca, Romeu, Carlos Alberto e Cícero(Thiago Neves - 24'/2ºT); Alex Dias e Rafael Moura(Soares - 13'/2ºT) - Técnico: Paulo César Gusmão
FRIBURGUENSE: Adriano; Sérgio Gomes, Cadão, Ronan e Gílson; Bidu, Daniel, Gleisson e Carlos Alberto(Crispim - 20'/2ºT); Mossoró(Ricardinho - 26'/2ºT) e Ziquinha(Éder - 38'/2ºT) - Técnico: Cleimar Rocha
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