24 março 2007

Um time sem alma

Alex Dias
O que esperar de um jogo quando acordo, compro os jornais e leio isto:

“Minha história no futebol é assim. Já consegui sair de situações difíceis e dar a volta por cima. Respeito o adversário, mas só penso em vencer. Se perder ponto, estou fora. Isso não pode passar pela minha cabeça.”

Quem lê esse trecho, todo falado na primeira pessoa (coisa que não pode acontecer em um esporte coletivo como o futebol) pensa que se trata de uma declaração do craque do time. Mas não – muito pior – é uma declaração do técnico Joel Santana.

E ele continua a sua egotrip:

“Não vou ficar chorando pelo leite que caiu no chão nem falar sobre hipóteses para o futuro. Minha conversa com a diretoria não foi a de um técnico aventureiro. Para me tirar e colocar alguém, tinha que ser o Felipão, o Parreira ou o Luxemburgo. Os outros todos são do mesmo nível que eu” - viaja.

Não vou nem comentar essa sandice de um técnico mediano querer se comparar a esses técnicos consagrados. Só quero chamar a atenção para esse tipo de declaração à imprensa às vésperas de um jogo decisivo para o Fluminense. Ninguém fala no jogo, ninguém fala no adversário, ninguém fala nos jogadores, que são, em última análise, quem vence ou perde os jogos. Por essa declaração do Joel Prancheta, dá para adivinhar que sua nova passagem pelo Fluminense não durará muito tempo. “Eu venci, nós empatamos e vocês perderam” é coisa que nenhum jogador agüenta.

Bom, mas vamos ao jogo, realizado em Moça Bonita no esdrúxulo horário das 15:15. O que se viu dentro de campo foi o que se esperava do jogo: o jogo de um time entrosado contra um time desentrosado. O Madureira é o time que joga mais bonito nesse campeonato carioca. Uma bela surpresa. Se tivesse camisa poderia ter vencido a Taça Guanabara. Toca a bola de primeira e marca bem, não deixa o adversário entrar no jogo.

O Fluminense sentiu que o Madureira seria um adversário difícil logo nos primeiros minutos e se encolheu, não conseguindo encontrar espaços para atacar o adversário. Aos 15 minutos de jogo o Madureira já chegara com perigo em duas oportunidades. O gol estava amadurecendo, e foi acontecer aos 34 minutos, com Muriqui, após Carlos Alberto perder a bola no meio campo. Carlos Alberto, o "craque" do time, teve uma atuação bisonha em que parecia estar fugindo do jogo, se escondendo em campo. Nas poucas vezes em que a bola chegou a seus pés nada fazia de útil, procurando quase sempre o drible, a jogada individual, facilmente impedida pelo adversário. Antes do jogo, em uma entrevista, ele admitiu ainda não estar 100% recuperado da contusão no quadril e estava com medo do contato físico. Então, por que foi escalado? E por que não foi substituído no intervalo?

Em vez disso, no intervalo Joel Cachaça tirou Cícero e Soares e botou em campo Lenny e Rafael Moura. O Fluminense ganhou mais vontade com esses dois, mas não chegou a lugar algum. São dois jogadores que jogam individualmente, para si. E, ao lado de Carlos Alberto, que também joga sozinho, o Fluminense no segundo tempo foi isso: um amontoado de jogadores tentando resolver o jogo em jogadas individuais. É claro que não poderia dar certo diante de um adversário consciente e muito bem postado em campo, como o bom time do Madureira. A vitória poderia ter sido maior não fosse o goleiro Fernando Henrique ter feito duas defesas importantes, em chutes de Maicon e Marcelo. O que também não significa coisa alguma, pois a dívida do Fernando Henrique com o Fluminense é imensa.

No intervalo, Carlos Alberto reclamou que faltava vontade nos seus companheiros, mas a verdade é que não se trata de um problema de falta de vontade. Vontade falta, é bem verdade, mas falta muito mais do que vontade. Falta inteligência, organização, jogadas ensaiadas, coletividade etc. Falta alma. Esse time do Fluminense é um time sem alma. Ou melhor, não é nem um time, é uma atividade comercial, um negócio, um sei lá o quê.


FICHA TÉCNICA - SÚMULA
MADUREIRA 1 x 0 FLUMINENSE
Estádio: Moça Bonita, Rio de Janeiro (RJ)

Data/hora: 24/3/2007 - 15h15min (de Brasília)
Árbitro: José Alexandre Barbosa Lima (RJ)
Auxiliares: Jorge Luis Campos Roxo e Dibert Pedroza Moises (RJ)

Cartões amarelos: Claudemir, Odvan, André Paulino, Zé Augusto e Marcelo (MADUREIRA). Carlinhos, Luiz Alberto e Junior Cesar (FLU).

Borderô:
Renda: R$ 19.670,00
Público pagante: 1.765

GOL: Muriqui, 34'/1ºT (1-0)

MADUREIRA: Everton, Claudemir, Odvan, Léo Fortunato e Amarildo; André Paulino, Wagner (Daniel, 8'/1ºT), Zé Augusto (Alex, 37'/2ºT) e Maicon (Osmar, 27'/2ºT); Muriqui e Marcelo - Técnico: Alfredo Sampaio

FLUMINENSE: Fernando Henrique, Carlinhos, Luiz Alberto, Thiago Silva e Junior Cesar; Fabinho, Romeu, Carlos Alberto e Cícero (Lenny, intervalo); Alex Dias e Soares (Rafael Moura, intervalo)- Técnico: Joel Santana

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