24 maio 2008

Uma classificação abençoada

Washington vibra de emoção com o gol

Quarta-feira passada, o torcedor tricolor viveu um momento mágico, na vitória por 3 a 1 sobre o São Paulo, no Maracanã. Como diria Nelson Rodrigues, os tricolores encheram o estádio. Os vivos saíram de suas casas e os mortos saíram de suas tumbas. A massa tricolor cantou, sofreu, torceu e permaneceu acreditando até o final do jogo. Aos 46 minutos do segundo tempo suas preces foram atendidas e Washington marcou o gol que classificou o Flu para as semifinais da Libertadores.

A mobilização começou bem cedo. A imprensa ajudou, divulgando a idéia de que o Fluminense estaria disputando o jogo mais importante de sua história. Muitos acreditaram. E foram. Eu fui, mesmo não acreditando. Como acreditar que este jogo seria mais importante que a decisão de 1984, que nos deu nosso único título de campeão brasileiro? Como acreditar que seria mais importante que o próximo, a semifinal contra o Boca Juniors? Ora, o time com espírito vencedor considera cada jogo seu o mais importante da história.

É verdade que o Fluminense não vem jogando bem, está mal escalado e muito mal administrado. Domingo passado, pôs os garotos em campo para enfrentar o Náutico e perdemos feio. Nosso treinador preferiu poupar os seus titulares que, entretanto, treinaram normalmente nas Laranjeiras. Vá entender o raciocínio desta anta! Poupar os titulares de um jogo em Recife é compreensível, mas de um jogo em casa?!? Enfim, o Fluminense acabou perdendo 3 preciosos pontos em casa e ainda viu Fernando Henrique adicionar mais um frango à sua vasta coleção.

Todos esses motivos me fizeram cético quanto à classificação sobre o São Paulo na quarta-feira. Mas fui ao jogo, de teimoso que sou. Comecei a acreditar na possibilidade da classificação quando o placar eletrônico anunciou a escalação de Thiago Silva. A torcida contagiou-se de esperança com a volta do monstro da zaga, o melhor zagueiro do Brasil. Será que dá?

O primeiro tempo começou bem. Jancarlos, nosso ex-lateral direito que saiu sem deixar saudades, arrotara na véspera que o caminho da vitória seria explorar a impaciência da nossa torcida. Não, Jancarlos, nossa torcida era impaciente apenas com o teu pobre futebol. Como foi bom te ver do outro lado, deixando uma avenida para o passeio de Júnior César. O ligeirinho chegou uma, duas vezes à linha de fundo, deixando o Jan comendo poeira lá atrás. Se apenas o Júnior César soubesse o que fazer quando chega à linha de fundo! Alguém já falou que o Júnior César é o Cafuringa da lateral-esquerda. Pois é...

Na terceira avançada pela avenida Jancarlos, Júnior César resolveu chutar forte. O zagueiro botou a bola para cima, Rogério Ceni hesitou em sair do gol e Cícero subiu mais alto que a zaga. Cabeceou para trás e serviu a Washington que anteviu o passe e se antecipou à zaga, desviando a bola para o gol, abrindo o placar e encerrando o jejum de 8 partidas sem marcar. Ufa! Igualado o placar de São Paulo, este resultado nos levava para a decisão por pênaltis, praticamente um suicídio, considerando-se que do outro lado estava Rogério Ceni e nós contávamos com Fernando Henrique. O Fluminense precisava marcar mais um gol, pois. Não partimos loucamente para tentar o segundo. Do outro lado estava o São Paulo, muito perigoso. Todos sabíamos que não poderíamos tomar um gol em casa, o que nos obrigaria a marcar mais dois. Quase chegamos lá, ainda no primeiro tempo, com a bola na trave de Conca e a cabeçada de Thiago Neves no rebote. Jogamos melhor que o São Paulo, mas não podemos dizer que jogamos bem. Parecia que alguma coisa estava errada no time. Thiago Neves se desdobrava na marcação a Richarlysson, e não tinha pernas para criar no ataque. Ele e Cícero desperdiçavam nossos contra-ataques. Conca, mais inteligente com a bola nos pés, ditava o ritmo do nosso ataque.

No início do segundo tempo, Renato Gaúcho trocou Arouca por Dodô, recuando Cícero para a cabeça da área. O São Paulo trocou Dagoberto por Aloísio Chulapa e Jancarlos por Joílson, fechando a avenida. O jogo equilibrou. Nosso meio campo não fazia mais frente ao do São Paulo e eles criaram uma, duas, três chances de gol. Até que saiu o lance de gol, numa jogada de Aloísio em cima do fraco Ygor, que já havia furado a bola dentro da área no primeiro tempo. Aloísio cruzou e Adriano subiu sozinho para empatar.

Naquele momento todo torcedor do São Paulo acreditou que a fatura estava liquidada. Os jogadores também. Aliás, acredito que 90% dos tricolores também. O São Paulo já jogava melhor e nós precisávamos naquele momento de 2 gols. Como consegui-los, se sequer passávamos do meio campo? Por isso, o gol de Dodô foi tão importante. Na saída de bola, Conca fez boa jogada e serviu a Dodô, que chutou errado, mas enganou Rogério Ceni, que tomou um frango por debaixo das pernas. O gol milagroso recolocou o Fluminense no jogo.

A torcida rezava a João de Deus, pedindo o segundo milagre. A graça nos foi atendida na expulsão de Joílson, que fez duas faltas em cima de Júnior César em 3 minutos e recebeu dois cartões. A defesa do São Paulo estava aberta. A pressão começou. Durante 10 minutos o São Paulo foi bombardeado com chutes, cruzamentos, escanteios, bolas pingadas na área. A torcida empurrava o Fluminense para cima, e olhava para seus cronômetros. Uma bola sobrou para Washington, que poderia ter chutado de primeira. Preferiu dominar a bola e recuá-la para Maurício, que tentou o cruzamento. A bola bateu na mão do zagueiro sãopaulino e todos pediram pênalti, no desespero. O árbitro bateu com a palma da mão no antebraço, admitindo o toque, mas dando a entender que tinha sido bola na mão. É, arbitragem internacional é bem diferente mesmo, pensei. A bola sai para escanteio.

Na cobrança do córner, aos 46 minutos, Thiago Neves, sempre ele, cobra com perfeição. A bola viaja até a cabeça de Washington que sobe, cercado por três grandalhões paulistas, e acerta uma cabeçada fulminante para dentro das redes. Rogério Ceni nada pôde fazer. Após o gol, ainda tivemos que torcer contra o último ataque do São Paulo e depois, foi apenas festa. A loucura tomou conta da torcida que não deixava o Maracanã. Parecia que haviámos conquistado a Copa.

Uma vitória heróica, bem ao estilo do Renato Gaúcho, que mostrou que tem muita sorte, novamente. Mexeu mal no time, mas foi abençoado com uma vitória que caiu dos céus. Seguimos na Libertadores e enfrentaremos o Boca Juniors. Certamente precisaremos mostrar muito mais competência do que sorte contra os argentinos.


FICHA TÉCNICA - SÚMULA:


FLUMINENSE 3 X 1 SÃO PAULO
Estádio: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Data/hora: 21/5/2008 - 21h50min (de Brasília)
Árbitro: Carlos Amarilla (PAR)
Auxiliares: Manuel Bernal e Tiburcio Gauto (PAR)

Renda/público: R$ 1.575.365,00 / 68.191 pagantes
Cartões amarelos: Luiz Alberto (FLU); Dagoberto, Joilson (SPO)
Cartões vermelhos: Joilson, 39'/2ºT (SPO)
GOLS: Washington, 11'/1ºT (1-0); Adriano, 25'/2ºT (1-1); Dodô, 26'/2ºT (2-1); Washington, 46'/2ºT (3-1)

FLUMINENSE: Fernando Henrique, Gabriel (Alan, 43'/2ºT), Thiago Silva, Luiz Alberto e Junior Cesar; Ygor (Maurício, 36'/2ºT), Arouca (Dodô, 9'/2ºT), Cícero, Conca e Thiago Neves; Washington.

Técnico: Renato Gaúcho.

SÃO PAULO: Rogério Ceni, Jancarlos (Joilson, intervalo), Alex Silva, Miranda e Richarlyson; Zé Luis, Fábio Santos, Hernanes e Hugo (Jorge Wagner, 33'/2ºT); Dagoberto (Aloísio, 12'/2ºT) e Adriano.

Técnico: Muricy Ramalho.

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