13 abril 2009

O goleiro nota zero

Fernando Henrique após mais um frango
Eu me pergunto o que me leva ainda a acompanhar o Fluminense em todos os jogos mesmo com todas as indicações da derrota anunciada. A começar pelo comentário ridículo do presidente Roberto Horcades, um fanfarrão idiota que motivou o adversário na semana da semifinal com a afirmação desnecessária que o Flamengo treme contra o Fluminense. O mesmo presidente que errara o nome do atacante Fred, chamando-o de Fábio na cerimônia de sua apresentação. O mesmo bocudo que afirmou que as mulheres só têm dois neurônios. Eu me pergunto se esta besta tem algum neurônio que preste. Não bastasse a declaração infeliz de Horcades, o fato de o Fluminense não jogar bem há mais de quatro meses seria motivo suficiente para me deixar longe do Maracanã na semifinal da Taça Rio contra o Flamengo. Mas eu me lembrei do meu vizinho e dos seus berros alucinados, dos foguetes que ele solta quase dentro da minha janela. Lembrei-me dos tiros para o alto dados traficantes da favela em frente ao meu prédio e isso me convenceu a ir ao Maracanã onde, por pior que fosse o jogo, certamente eu iria me irritar menos do que ficando em casa.

Nem bem o jogo começou, me convenci que não estava errado. O Flamengo jogava motivado, marcando muito, comendo a grama, como costumam dizer. Quatro volantes no meio campo marcando forte, deixando os dois alas, Juan e Leonardo Moura com liberdade total. Ou seja, o Flamengo jogou como vem jogando há quatro anos, sem nenhuma novidade. O Fluminense, mal escalado e mal montado por Parreira, parecia surpreso com isso. Inexplicavelmente Juan tinha liberdade total pela esquerda. Juan não é nenhum craque de futebol, mas tem uma qualidade que poucos jogadores brasileiros possuem: é inteligente. Seu futebol não é complicado, é simples, e 90% de seu futebol se deve ao seu posicionamento eficiente, buscando sempre os espaços vazios do campo. Quando o Flamengo atacava pela direita, todos os jogadores embolavam pela direita, e Juan abria na lateral esquerda, esperando a virada de jogo. Nenhum jogador do Fluminense se aproximava para marcá-lo. Quando a bola era invertida e chegava aos seus pés, o lateral Mariano estava tão longe que Juan tinha tempo de matar a bola, olhar o jogo e fazer a melhor jogada, quase sempre uma enfiada para Zé Roberto que tirava mais um zagueiro da área. Era uma triangulação mortal, que foi feita uma, duas, três vezes, sem que o time do Fluminense ensaiasse uma marcação mais forte.

Guardadas as devidas proporções eu me lembrei daquele jogo em que fomos eliminados da Copa de 2006 pela França. A passividade de Parreira, na beira do gramado, era a mesma ao ver Zidane desfilando pelo meio campo brasileiro. Assim como naquele jogo, não deslocou nenhum jogador para marcar o adversário que desequilibrava o jogo. Outro jogo que me veio à memória, ainda no primeiro tempo, antes do gol flamenguista, foi aquela decisão do brasileiro de 92 quando o técnico do Botafogo, o Búfalo Gil assistiu passivamente seu lateral Odemilson ser envolvido continuamente pelo ponta Nélio, do Flamengo. Gil só acordou depois do terceiro gol rubro-negro, mas se aposentou do futebol depois daquele jogo. Ou pelo menos de um time de ponta. Pois é, tudo isso me passou pela cabeça e veio o quarto, o quinto lance em que Juan repetia a mesma jogada sem marcação nenhuma. Até que veio o gol, num chute despretencioso de fora da área, que poderia ter sido defendido se o nosso goleiro tivesse ficado parado onde estava. O problema é que Fernando Henrique não sabe defender uma bola sem dar uma ponte estratosférica, sem posar para as câmeras dos fotógrafos, sem transformar uma defesa simples numa palhaçada cinematográfica para simular uma defesa difícil. Pulou, de olhos fechados, e a bola de Juan passou por cima dele, num frango ridículo.

E o jogo ficou nisso, graças a Deus. O Flamengo poderia ter dado uma goleada histórica. Poderia ter devolvido a goleada de 4 a 1 que lhes aplicamos na final da Taça Rio de 2005, mas seus jogadores perderam gols incríveis, dados de presente pelos jogadores do Flu. Num lance bisonho, Luiz Alberto, que fala mais do que joga, deu a bola nos pés de Leonardo Moura, que cara a cara com o nosso frangueiro conseguiu perder o gol. No mesmo lance, o atacante Josiel ainda perdeu outra chance, sem goleiro. No segundo tempo, a jogada se repetiu com uma entregada do horrível volante Jaílton.

O Fluminense não criou nada de bom. O único jogador que procurava o jogo era Thiago Neves. Deslocava-se, pedia a bola, que quase nunca chegava até ele. Seu marcador estava sempre no seu encalço. Quando recebia uma bola, não conseguia limpar a jogada. Quando limpava e levantava a cabeça procurando um companheiro para passar a bola, via-se num deserto terrível, infestado de urubus, seu companheiro mais próximo a milhas de distância.

O juiz, Marcelo de Lima Henrique, nem precisou roubar como costuma. Foi um trunfo que não precisou ser gasto, uma carta que não precisou ser tirada da manga. Os sete cartões amarelos dados aos tricolores foram corretos, com exceção de um, dado ao Everton Santos. Batemos muito por que não soubemos marcar. O pênalti cometido por Ronaldo Angelim, carregando a bola com o braço, nunca é marcado mesmo a nosso favor, conquanto tenha sido exatamente igual ao marcado a favor do Flamengo contra o Americano em Campos. Quanto a isso já estamos acostumados, o estranho seria se o pênalti fosse marcado a nosso favor. O outro pênalti, uma cotovelada de Williams em Fred, logo no início do jogo, foi devidamente ignorado e a marcação invertida. O safado marcou o revide de Fred e aplicou cartões nos dois. Mas isso é normal. Todo tricolor sabe que precisamos ter as tripas perfuradas dentro da área para que um pênalti seja marcado a nosso favor. Principalmente contra o Flamengo e com um juiz comprado.

O resultado mostrou que ainda estamos muito longe de montar um time decente. Os dois laterais são fracos, especialmente o esquerdo, Leandro, que se esconde do jogo. Os volantes inexistem. Jaílton é uma piada de mau gosto. Wellington Monteiro é esforçado, mas não tem perna e é jogador para time pequeno. Cairia muito bem num time nordestino da segunda divisão. Por incrível que pareça, o veterano Fabinho ainda é o nosso melhor volante. A defesa decepcionou outra vez. Não nos recuperamos da saída do monstro Thiago Silva. Luiz Alberto não joga nada, não vem jogando nada desde que perdeu o companheiro. Edcarlos, coitado, perdido em campo. Fernando Henrique é um caso à parte. Ele mesmo se deu nota zero, na coletiva após o jogo. Eu me pergunto como um enganador como ele ainda está no Fluminense, jogando como titular há 230 jogos! Irritando os torcedores há 7 anos! Ele tem deficiências crônicas, em fundamentos básicos de um goleiro: não sabe sair do gol, não tem tempo de bola, não se posiciona bem e não defende chutes de longa distância. Como ele pode ser goleiro? Já havia falhado bisonhamente no últim Fla-Flu, na semana passada, quando socou uma bola defensável que caiu nos pés de um jogador do Flamengo e deu origem ao gol de empate, nos acréscimos. Fernando Henrique lembra muito outro frangueiro que jogou por muito tempo no Flu: Ricardo Pinto, outro fanfarrão que nunca reconhecia seus erros, e era odiado pela torcida tricolor, e paparicado pelos dirigentes e pela imprensa flamenguista. Sabe Deus como, aquele presepeiro chegou a 235 jogos pelo Flu, mas foi expulso do clube a pontapés depois de furar uma bola na decisão contra o Vasco em 93. Perdemos o título mas nos livramos do frangueiro. Quem sabe não conseguimos nos livrar do goleiro nota zero agora?


FICHA TÉCNICA - SÚMULA:

FLAMENGO 1 X 0 FLUMINENSE

Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Data/Hora: 12/4/2009 - 16h (de Brasília)
Árbitro: Marcelo de Lima Henrique (RJ)
Assistentes: Hilton Moutinho Rodrigues (RJ) e Marco Aurélio dos Santos Pessanha (RJ)

Renda/público: R$ 1.245.363,00 /68.613 pagantes e 72.030 presentes
Cartões amarelos: Willians, Juan (FLA); Fred, Everton Santos, Mariano, Wellington Monteiro, Leandro, Jaílton (FLU)
GOLS: Juan, 31'/1ºT (1-0)

FLAMENGO: Diego, Aírton (Welinton, 26'/2ºT), Fábio Luciano, Ronaldo Angelim; Léo Moura, Willians, Ibson, Kleberson e Juan; Josiel (Emerson, 11'/2ºT) e Zé Roberto (Éverton, 32'/2ºT). Técnico: Cuca.

FLUMINENSE: Fernando Henrique, Mariano (Alan, 24'/2ºT), Luiz Alberto, Edcarlos e Leandro; Jailton, Wellington Monteiro (Marquinho, intervalo), Conca e Thiago Neves; Everton Santos (Maicon, 17'/2ºT) e Fred. Técnico: Parreira.

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