19 outubro 2008

Roubo no Barradão

No campeonato brasileiro mais disputado de todos os tempos, o Fluminense segue seu calvário, tentando escapar do quarto rebaixamento. A nove rodadas do final, foi a Salvador enfrentar o Vitória, na segunda partida sob o comando de René Simões, enfim um técnico de verdade.

Após uma semana treinando em Saquarema, no CT da Confederação Brasileira de Vôlei, o Fluminense continuou mostrando a evolução que apresentou no jogo contra o Atlético Paranaense. Jogando sob o sol escaldante das 3 horas da tarde (o horário de verão começou ontem), o Fluminense entrou com muito gás, pressionando o adversário. A correria deu certo. Com poucos minutos de jogo, o Fluminense já havia chegado duas vezes cara a cara ao gol adversário. No primeiro lance, Arouca entrou livre e tirou do goleiro, mas acertou a trave. No segundo lance, o zagueiro Edcarlos também entrou livre, mas preferiu não chutar e desperdiçou a jogada ao cortar para dentro. As duas chances desperdiçadas deixaram a torcida tricolor apreensiva. O ditado “quem não faz, leva” ecoava na cabeça do tricolor. E não deu outra, no primeiro ataque do Vitória, gol deles.

Mas o Fluminense tinha Thiago Silva, voltando da convocação para a seleção. Numa falta da intermediária, Thiago Silva ajeitou a bola e deu a entender que ia bater direto. O locutor estranhou, dizendo que a bola estava mais perto do meio-campo que da grande área. Thiago Silva chutou e a bola descreveu a trajetória ideal, saindo do goleiro e entrando no ângulo. Indefensável. O Flu empatava a partida.

No segundo tempo, logo no início do jogo, Conca cobra uma falta para dentro da área, Thiago Silva mata a bola, livre e chuta forte. O goleiro defende e, no rebote, Washington completa com oportunismo. O Flu virava o jogo. Mas a alegria durava pouco. A revelação bahiana Marquinhos deixaria o jogo empatado em nova falha de Fernando Henrique.

A essa altura do jogo, qualquer resultado era possível. O Fluminense chegava com mais perigo e, num cruzamento de Sandro, da direita, Washington se antecipou ao zagueiro e ia marcar o gol, mas foi agarrado pelo colarinho dentro da área. Pênalti claríssimo que o juiz, Leandro Vuaden, não deu. O Flu ainda foi prejudicado pelo bandeirinha Marcelo Bertanha Barison num lance em que Ciel chegou na cara do gol, e foi marcado impedimento inexistente. Mas o lance foi difícil e o bandeirinha não deve ter tido má fé. Foi ruindade mesmo.

Bem diferente do lance nos acréscimos, quando Washington chutou para o gol e o zagueiro do Vitória cortou a bola com a mão. Pênalti e expulsão do jogador, certo? Pelas regras da FIFA sim, mas o aspirante à FIFA Leandro Vuaden, que soprava o apito neste jogo, mesmo estando a cinco metros do lance, nada viu, e nada marcou. Lance parecido cm este, só vi duas vezes na minha vida. Um foi contra o Coritiba em 2005, no Couto Pereira, e o árbitro era o cegueta do Gaciba. O outro foi num Fla-Flu no Maracanã, o Branco virou e chutou, mas o Andrade, em cima da linha defendeu com a mão. Não me lembro quem era o bandido da época.

FICHA TÉCNICA - SÚMULA:
VITÓRIA 2 X 2 FLUMINENSE

Estádio: Barradão, Salvador (BA)
Data/hora: 19/10/2008 - 16h (de Brasília)
Árbitro: Leandro Pedro Vuaden (RS)
Auxiliares: Altemir Hausmann (RS) e Marcelo Bertanha Barison (RS)

Renda/público: não divulgado.

Cartões amarelos: Ciel (FLU); Rafael (VIT)
Cartões vermelhos: não houve.

GOLS: Rafael, 15'/1ºT (1-0); Thiago Silva, 36'/1ºT (1-1); Washington, 1'/2ºT (1-2); Marquinhos, 20'/2ºT (2-2)

VITÓRIA: Viáfara, Rafael, Thiago Gomes, Leonardo Silva e Marcelo Cordeiro; Wallace, Renan, Leandro Domingues (Ramon, 11'/2ºT) e Willians; Robert (Rodrigão, 32'/2ºT) e Marquinhos (Ricardinho, 35'/2ºT). Técnico: Vágner Mancini.

FLUMINENSE: Fernando Henrique, Carlinhos (Sandro, 21'/2ºT), Edcarlos, Thiago Silva e Junior Cesar; Fabinho, Romeu (Wellington Monteiro, 7'/1ºT), Arouca e Conca; Everton Santos (Ciel, intervalo) e Washington. Técnico: René Simões.

Transmissão: Rede Globo

12 outubro 2008

He-Man dá uma força ao Flu

Arouca voltou a jogar bem e o Flu venceu
Diferentemente do que aconteceu durante o tri-rebaixamento da década de 90, o tricolor encara o sofrimento por que passa neste campeonato brasileiro com bom-humor e distanciamento. Naquela época uma verdadeira comoção nacional teve lugar, ocasionando episódios épicos como na estréia da segunda divisão, quando 40 mil tricolores compareceram ao Maracanã num domingo às 11 horas da manhã para ver a derrota, para o ABC, por 3 a 2, ou ainda o jogo contra o time dos bombeiros, com a arquibancada interditada, em que a torcida lotou a geral e, debaixo de um aguaceiro divertiu-se fazendo olas. Não, a torcida tricolor nunca foi dada a esses fanatismos. Costumava comparecer em peso apenas quando sentia o cheiro do título no ar. Aqueles loucos momentos cabiam melhor no comportamento dos nossos rivais.


A campanha do nosso quarto rebaixamento em 2008 restaura a ordem natural das coisas. O tricolor sofre, é claro, mas não se vê as cenas de histeria nem apedrejamento de vitrais. Com sabedoria, o tricolor encara o rebaixamento como um castigo bem apropriado a Horcades, Branco, Tote e Celso Barros, os homens que desmantelaram a nossa incipiente estrutura de futebol dando poder ilimitado a Renato Gaúcho. Os homens que protagonizaram o episódio mais vergonhoso de toda a história do Fluminense, quando desviaram os ingressos da final da Libertadores para as mãos dos cambistas, e comandaram uma brutal repressão à própria torcida, com direito a gás de pimenta e cacetadas da PM carioca.


Por tudo isso, o tricolor encara mais este calvário com distanciamento. Ontem, antes da partida contra o Atlético Paranaense, tudo indicava mais um vexame e o aumento das nossas chances de rebaixamento, que antes do jogo, atingiam 76%, segundo o matemático Tristão. Para piorar as nossas espectativas, o adversário era um dos nossos maiores rivais, que em 1996 perdeu um jogo em casa para o Criciúma para provocar nosso primeiro rebaixamento. Jogaríamos desfalcados de Thiago Silva, convocado para a seleção de Dunga, e no aquecimento, o zagueiro reserva Roger sentiu uma contusão e foi vetado. Além disso, tínhamos acabado de trocar de técnico. O depressivo Cuca fora demitido e René Simões, o novo contratado, era visto com desconfiança pela torcida por expressar-se em numa espécie de lazaronês pós-moderno. Nesta última semana, a imprensa rubro-negra deliciou-se com notícias sobre as palestras incomodacionais de René, que pretendia motivar os jogadores pelo método Master Mind. Nada mais lazaroni.


Para piorar, nos primeiros minutos de jogo, o Fluminense já estava com a zaga quase toda pendurada. Júnior César, Edcarlos e Luiz Alberto já tinham recebido cartão amarelo. No banco de reservas, nenhum zagueiro, apenas volantes. No Atlético Paranaense, jogavam dois ex-jogadores tricolores, Antônio Carlos, o bom zagueiro que fez o gol do título de 2005, e o fraquíssimo atacante Rafael Moura, também conhecido como He-Man. Foi o primeiro que abriu o placar, cobrando falta com violência no canto do goleiro Fernando Henrique, que falhou.


A tragédia estava encaminhada, mas a sorte resolveu mudar de lado, e escolheu os ex-tricolores como protagonistas. He-Man resolveu dar uma força ao seu ex-clube e botou a mão dentro da área. Pênalti, que Washington converteu. Alguns minutos mais tarde, Antônio Carlos segue o companheiro e faz pênalti desnecessário em Arouca. O juiz Carlos Eugênio Simon apontou a marca penal, mas se acovardou e não deu o segundo cartão amarelo que provocaria a expulsão de Antônio Carlos. Menos mal, Washington virou o jogo e Antônio Carlos continuou em campo para nos dar outro presente, deixando Washington na cara do goleiro. O Coração Valente dispensou o presente chutando para fora e desperdiçando uma oportunidade que nos deixaria mais tranquilos para jogar o segundo tempo.


A sorte, que parecia estar contra o Fluminense no início do jogo, parece que havia mesmo virado de lado. Ainda durante o primeiro tempo, o Atlético perde dois jogadores por contusão. Era visível o desespero dos adversários, tanto na expressão do técnico Geninho, quanto nos olhares incrédulos da torcida. No segundo tempo, Simon não teve a mesma condescendência com uma entrada violenta de Luiz Alberto e deu-lhe o segundo amarelo. Mas nem o juiz caseiro foi capaz de fazer o Atlético reagir. Não se escala um amador como Rafael Moura impunemente. Nós tricolores bem o sabemos.


Segurando-se na defesa, o Fluminense ainda conseguiu chegar ao terceiro gol, também através de Washington, após uma falta cobrada por Conca. Um resultado importante, que nos tira da zona de rebaixamento e dá uma certa esperança, até por que o time mostrou evolução, coisa que não vinha acontecendo. Resta saber se essa evolução se manterá na próxima rodada, quando enfrentaremos um time mais forte, o Vitória, no Barradão. Outra boa surpresa aconteceu após o jogo, na entrevista de René Simões. Esculhambou o campo das Laranjeiras, falou que é impossível para os jogadores treinarem lá, devido ao estado lastimável do gramado. Coisa que todos nós torcedores já sabíamos há quatrocentos anos, mas é a primeira vez que um técnico tem a coragem de dizê-lo publicamente.

FICHA TÉCNICA - SÚMULA:
ATLÉTICO-PR 1 X 3 FLUMINENSE
Estádio: Kyocera Arena, Curitiba (PR)
Data/hora: 11/10/2008 - 18h20 (de Brasília)
Árbitro: Carlos Eugênio Simon (Fifa-RS)
Auxiliares: Julio César Rodrigues Santos (RS) e José Javel Silveira (RS)
Renda/público: R$ 233.722,50 - 15.387 pagantes

Cartões amarelos: Junior Cesar, Luiz Alberto, Edcarlos (FLU); Antônio Carlos, Rafael Moura, Chico, Gustavo, Valencia (APR)
Cartões vermelhos: Luiz Alberto, 16'/2ºT

GOLS: Antônio Carlos, 16'/1ºT (1-0); Washington , 21'/1°T (1-1), Washington, 24'/1ºT (1-2), Washington, 31'/2ºT (1-3)

ATLÉTICO-PR: Galatto, Alberto (Gabriel, 41'/1ºT), Gustavo, Antônio Carlos e Márcio Azevedo; Chico, Valencia, Kelly (Alan Bahia, 44'/1ºT) e Netinho; Joãozinho (Geilson, 9'/2ºT) e Rafael Moura. Técnico Geninho.

FLUMINENSE: Fernando Henrique, Carlinhos, Edcarlos, Luiz Alberto e Junior Cesar; Fabinho, Romeu, Arouca (Maurício, 31'/2ºT) e Conca; Everton Santos (Ciel, 14'/2ºT, Wellington Monteiro, 20'/2ºT)) e Washington. Técnico: René Simões.