24 agosto 2008

Um novo professor Pardal?

Com a demissão de Renato Gaúcho, muitos tricolores respiraram aliviados. Eu não. Tenho consciência que apenas extirpamos um tumor, mas a doença continua lá, entranhada nas carnes do nosso tricolor. Tampouco a contratação de Cuca me encheu os olhos. Cuca é um treinador comum, como outro qualquer. O que não deixa de ser um progresso, visto que antes tínhamos treinador nenhum. Dito isso, minhas expectativas em relação ao trabalho de Cuca são mínimas. Espero que consiga livrar o time do rebaixamento e só. Nada mais.

Cuca estreou no Flu com uma vitória suada e sofrida sobre o Atlético Mineiro. Não jogamos bem. No segundo jogo, outra vitória, desta vez sobre o Náutico. Novamente sem jogar bem, e com três gols de bola parada. Tiramos a cabecinha de dentro do lodo e respiramos pela primeira vez neste campeonato, fora da zona de rebaixamento. Talvez esta pequena melhora tenha animado Cuca a inventar. Este foi o seu erro.

Contra o Sport, ontem no Maracanã, o Fluminense entrou em campo com uma escalação exdrúxula, digna dos piores momentos de Renato Gaúcho: Arouca na lateral direita, Romeu e Maurício no meio, Tartá no banco, Éverton Santos, Dodô e Washington no ataque. Não podia dar certo. Nos primeiros minutos de jogo isso ficou claro e evidente. Selbstverständnis, como diriam os alemães. Aos 10 minutos de jogo, Cuca já havia tirado Arouca da lateral, e Maurício estava ocupando aquele espaço. Mais 5 minutos de jogo e o novo lateral do Flu era Éverton Santos. Parecia jogo de vôlei, a cada ataque, uma nova formação. Acho que Cuca andou vendo muita Olimpíada pela TV.

É óbvio que não podia dar certo. Dentro de campo, os jogadores sentiam que o técnico estava perdido. O Sport dominava o jogo, e chegou ao gol após nova falha de Fernando Henrique, que demorou a sair do gol. Os jogadores deixaram o campo sob vaias. No intervalo, Cuca decide voltar ao feijão com arroz, e troca Dodô, que havia perdido um gol incrível, pelo lateral direito Carlinhos. Melhoramos, jogando com um lateral de ofício, mas não muito. O Sport continuou melhor em campo e poderia ter chegado ao segundo gol se Carlinhos Bala não tivesse completado um cruzamento da esquerda por cima do gol tricolor. Quem não faz, leva. No final do jogo, o fraco árbitro goiano marca pênalti a favor do Flu que o Coração Valente converte, com paradinha.

Fica a sensação que a briga para escapar do rebaixamento será longa e angustiante. Daqui a uma semana acaba-se o prazo para novas contratações e parece que vamos ficar apenas com essas duas: Éverton Santos e Eduardo Ratinho. Contratamos 4 laterais direitos para esta temporada e nenhum vingou. Aliás, o único que vingou, Gabriel, foi embora incompatibilizado com o Renato Gaúcho. Agora temos que aturar Carlinhos, Rafael, Ratinho, quando não são os improvisos com Arouca e Éverton Santos. É dose para mamute. Retrato da incompetência dessa diretoria que tem que ser escorraçada para fora das Laranjeiras. O que a torcida espera é que Cuca páre de inventar como o professor Pardal e faça o feijão com arroz.

FICHA TÉCNICA - SÚMULA:
FLUMINENSE 1 X 1 SPORT
Estádio: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Data/hora: 23/8/2008 - 18h20 (de Brasília)

Árbitro: Elmo Alves Resende Cunha (Asp. Fifa-GO)
Assistentes: Fabrício Vilarinho da Silva (GO) e Jesmar Benedito Miranda de Paula (GO)
Renda/público: R$ 141.312,00 / 11.442 pagantes

Cartões amarelos: Maurício (FLU); Sandro Goiano, Roger, Carlinhos Bala, Moacir (SPO)

GOLS: Roger, 24'/1ºT (0-1); Washington, 39'/2ºT (1-1)

FLUMINENSE: Fernando Henrique, Anderson, Romeu (Somália, 16'/2ºT) e Luiz Alberto; Arouca, Maurício (Tartá, 33'/1ºT), Conca e Junior Cesar; Everton Santos, Dodô (Carlinhos, intervalo) e Washington. Técnico: Cuca.

SPORT: Magrão, Sidny, Igor, Durval e Dutra; César Lucena, Moacir, Sandro Goiano e Kássio (Fábio Gomes, 40'/2ºT); Carlinhos Bala (Enilton, 43'/2ºT) e Roger (Wilson, 24'/2ºT). Técnico: Nelsinho Baptista.

03 agosto 2008

O incrível motivador desmotivado

O torcedor protesta nas Laranjeiras
A imprensa esportiva brasileira inventou a figura do técnico motivador. Como se fosse possível a existência de um profissional de futebol que não conhecesse o ramo mas que compensasse sua ignorância com motivação. Como se fosse possível isso acontecer em qualquer profissão! Alguém imagina a figura de um cirurgião motivador?!? Capaz das maiores barbeiragens com o bisturi, após a cirurgia ele recuperaria o paciente com a lábia!

A primeira imagem do técnico motivador que nos vem à cabeça é a de Renato Gaúcho. Construiu sua "carreira" como treinador em cima dessa mentira. Treinou Madureira, Fluminense e Vasco, conquistou um único título, a Copa do Brasil de 2007, na base da motivação. Seus times não treinam. É comum vê-lo participando dos rachões junto com os jogadores. Na beira do campo, enquanto seus jogadores se matam para compensar a falta de jogadas ensaiadas e entrosamento, ele berra e gesticula para a imprensa imaginar que ele é o responsável pela vitória.

À medida que a ficha vem caindo para o torcedor tricolor, Renato Gaúcho está sendo cobrado cada vez mais. E, cobrado, vem posando de magoado, desmotivado. Ele, que sempre gostou de uma câmera de TV, vem fugindo das entrevistas. Ele, que sempre precisou da mídia como um viciado precisa da droga, vem se recolhendo ao silêncio. O raciocínio simplista do torcedor é imediato: De que adianta um motivador desmotivado?

Não é este o caso, na verdade. Em campo, o time do Fluminense vem jogando o mesmo futebol que tem jogado desde o início do ano, um futebol feio, desorganizado e bagunçado, que tem vencido seus jogos na base da bola parada e da sorte. Sem os Thiagos, que estão jogando a Olimpíada, o time desmontou a defesa e perdeu a jogada da bola parada. É um bando em campo. De nada adiantaria a motivação de Renato. Já caiu a ficha para o time, e para boa parte da torcida, que Renato Gaúcho não é e nunca foi técnico. Ninguém pode exercer uma profissão apenas na base da motivação.

Ontem, o Fluminense perdeu novamente no Maracanã. O time voltou a entrar em campo com uma escalação desmiolada: três volantes, dois laterais esquerdos, um atacante. Tomou um gol no primeiro ataque do Internacional. Nilmar foi lançado, Fernando Henrique não saiu do gol e Roger perdeu na corrida. Um gol para mostrar toda a deficiência do nosso poder defensivo.

Renato resolveu mexer no time ainda no primeiro tempo. Tirou João Paulo, um dos dois laterais esquerdos, que até jogava bem para botar em campo Somália. O time piorou. Deveria ter tirado Felipe, o outro garoto que estava em campo e nada produzia. O Inter chegou ao segundo gol ainda no primeiro tempo, e o Flu foi para o intervalo debaixo de vaias. No intervalo, protesto de parte da torcida.

No segundo tempo, o Inter, que não vencia uma partida fora de casa desde novembro de 2007, recuou para segurar o resultado. Foi o suficiente para o Fluminense esboçar um sufoco, mas sem grandes perigos. Fez um gol meio que por sorte e foi só. Quando Renato resolveu mexer no time novamente, tirou dois meias e botou dois atacantes, deixando o time num inacreditável 4-2-4 e selando o destino do jogo. O Flu parou de pressionar e o Inter garantiu o resultado.

Ao final do jogo, o inacreditável: a diretoria do Fluminense chama Renato Gaúcho para uma reunião de emergência no Maracanã, no camarote da UNIMED. Suspense. A torcida tricolor aflita, esperando a qualquer momento a notícia da demissão de Renato. Uma demissão tardia, mas que ainda nos poderá livrar do nosso quarto rebaixamento. Meia hora depois, a frustração: a reunião fora apenas para cobrar motivação do motivador! Como diria Goebbels, uma mentira muitas vezes repetidas torna-se uma verdade.


FICHA TÉCNICA - SÚMULA:
FLUMINENSE 1 X 2 INTERNACIONAL

Estádio: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Data/hora: 02/8/2008 - 18h20 (de Brasília)
Árbitro: José Henrique de Carvalho (SP)
Auxiliares: Ivan Carlos Bohn (PR) e José Carlos Dias Passos (SP)
Renda/público: R$ 129.247,00 / 10.092 pagantes
Cartões amarelos: Fabinho, Conca, Maurício (FLU), Taison, Rosinei, Adriano (INT)
Cartões vermelhos: Maurício

GOLS: Nilmar 5'/1ºT (0-1); Nilmar 27'/1ºT (0-2); Somália, 25'/2ºT (1-2)

FLUMINENSE: Fernando Henrique, Maurício, Luiz Alberto, Roger e Junior Cesar; Fabinho (Alan, 38'/2ºT), Romeu, Felipe (Maicon, 21'/2ºT) e João Paulo (Somália, 35'/1ºT); Conca e Dodô. Técnico: Renato Gaúcho.

INTERNACIONAL: Clemer, Wellington Monteiro, Indio, Sorondo e Marcão; Edinho, Guiñazú, Rosinei (Adriano, 26'/2ºT) e Andrezinho (Magrão, 24'/2ºT); Taison (Ramon, 13'/2ºT) e Nilmar. Técnico: Tite